sexta-feira, 13 de março de 2015

SETÚBAL: O DIA DO JUÍZO FINAL ADIADO, 7 DE MARÇO 1975


" MALDIÇÃO: ESTE  ACONTECIMENTO HISTÓRICO FOI  PROSCRITO PORQUÊ? 
MALDITOS! 

SERÁ PORQUE SETÚBAL FICA A 1 MILHÃO DE QUILÓMETROS, OU PORQUE FOI UMA SUBLEVAÇÃO DO POVO, COM OU SEM APOIO DA LUAR?

TODAVIA COM OU SEM A LUAR, QUEM ESTEVE NA RUA FOI MUITO POVO E TERÁ SIDO MERO ACASO O COMÍCIO DO PPD EM SETÚBAL,EM 7 DE MARÇO 75 E O 11 DE MARÇO. UM EX PEPEDISTA PRESENTE NO LANÇAMENTO DO CD DA AJA,SOBRE ESTE ACONTECIMENTO,DE QUE FAZ PARTE O TEXTO DE 2013, ABAIXO EDITADO, DISSE QUE A SEDE PPD/SETÚBAL ESTEVE EM PERMANENTE LIGAÇÃO COM A PSP...COISAS, SEM IMPORTÂNCIA. ...SABER PARA ALÉM DO QUE OS SECRETÁRIOS-GERAIS DOS PARTIDOS E OUTROS TAIS DIZEM DÁ UMA TRABALHEIRA,LOGO..".BIBA" A IGNORÂNCIA! "BIBA"!

DECLARAÇÃO DE INTENÇÃO:ESTIVE NESTA MISSÃO, COMO EM TODAS, EXCLUSIVAMENTE COMO MILITAR DO MFA, AO SERVIÇO DO POVO E DE  PORTUGAL,PONTO"

SETÚBAL 7 MARÇO 1975

"Em memória do jovem morto: João Manuel  e do soldado do RALIS  Luís"

Há dias assim, em que o Diabo se incarna de humano, e desce à cidade, para Matar. Sob esta sina nasceu aquele dia 7 de Março 75, mas também é verdade que em toda a grande zona Alentejana, de Setúbal a Elvas, passando por Pegões, Coruche, Couço, Vendas Novas, Montemor,Ciborro, Escoural, Évora, Monsaraz, S. Manços, Pias, Beja, Aljustrel, Alvalade do Sado, Monforte, um arcanjo S. Gabriel - a Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas – velava e zelava, para que nenhum povo fosse vitimado por uma bala assassina parida no 24 de Abril, e sobrevivente ao 25 de Abril, o que, até ao 25 de Novembro 75, se conseguiu, embora, não tivesse sido fácil.

Depois o sangue do povo Alentejano correu, mas ninguém acusou ninguém - estávamos em 1979, o 25 de Abril iniciava a sua lenta dissolução.

Todavia, naquele Março de 1975, acontecimentos extraordinários tiveram lugar, e, neste ambiente, o dia7 de Março em Setúbal poderia ser o DIA O JUÍZO FINAL DA REVOLUÇÃO, com sua inevitável conjugação com a tentativa de golpe de Estado spinolista do dia 11de Março 75, mas não foi, porque perante a sublevação da população de Setúbal contra a policia, em consequência de confrontos anteriores, em que morreu um jovem baleado e pela incapacidade real ou por conveniência do regimento de Setúbal de garantir a segurança a uns e outros, por ordem do COPCON, avançou uma força de 2 pelotões de Vendas Novas, para garantir a segurança desejada a ambos, o que,se conseguiu.

Para esta missão fui nomeado, como comandante da força, nesta altura não se faziam escalas, ou,então, a escala estava super viciada, porque para estas missões a nomeação recaía quase invariavelmente em mim,o que, nunca me pesou,e, contrariamente, me agradou e honrou, mas nunca fui voluntário - fui sempre nomeado.Nesta missão também se integrou o capitão Sales Grade, e, entre outros, o Alferes Pauleta.

Pelo caminho, e estando todo o país em situação calma e normal, e não tenho como militar, nenhuma formação para controlar motins, desloquei-me, desejando que a simples presença das forças armadas fosse suficiente, para acalmar os ânimos, e repor algum sentimento de justiça e desagravo em relação aos acontecimentos anteriores. A verdade é que estava tranquilo, porque acreditava muito, muito, nisto,conquanto este fosse omeu baptismo de fogo, na resolução de conflitos entre PSP – uma esquadra ameaçada de invasão – e a população que queria invadir o quartel da PSP, e expulsar aqueles polícias.

Anos mais tarde li que em tempos bem mais recuados, o então, capitão Loureiro dos Santos fez o mesmo trajecto,para ocorrer a uma situação de emergência em Setúbal, no contexto do Estado de sitio, sem saber muito sobre qual o objecto material da sua acção e eventuais responsabilidades, por qualquer facto sobrevindo, nomeadamente, quanto ao uso das armas que transportava.
Em iguais circunstâncias me encontrei muitos anos depois. Em todo este tipo de acções, NUNCA RECEBI NENHUMA OUTRA INSTRUÇÃO, para além de - comanda a Força e garante a segurança, faz o melhor que souberes e puderes, acrescentava eu, e, fui sempre o que fiz.

Na prossecução da missão, quando cheguei a Setúbal, a força do regimento de Infantaria de Setúbal estava numa situação de aperto e de impossibilidade de cumprir uma missão de defesa da população e da esquadra. Esta Força era comandada por um alferes que mais tarde vim a encontrar como professor na ESPE,assim, neste contexto, as forças de Vendas Novas, dois pelotões (60 homens) tomaram as suas posições que se resumiram a fazer um cordão entre a população e a esquadra, mantendo algum pessoal de reserva, nesta missão sem termo certo,mas que se esperava resolver num máximo de 48 horas. Todavia, ao certo não se sabia.

A população foi acorrendo, toda aquela praça e avenida à frente da esquadra se encheram de gente. Na esquadra alguém pode ter-se assustado e comunicado a situação para o Comando Geral da PSP, ou mesmo por iniciativa deste ou do de Lisboa, os polícias começaram a montar na janela do 1ºandar uma metralhadora pesada, o que, me fui comunicado pelo Alferes Pauleta.

Informado de tal realidade, estranhando mesmo que a PSP tivesse aquele tipo de armamento,dirigi-me ao local. Os polícias, de um modo geral, eram jovens, estavam extremamente nervosos, e, logo, me disseram que tinham recebido ordens do Major Casanova Ferreira, 2º Comandante da PSP, para abrirem fogo sobre a população, se tentassem ameaçar ou invadir a esquadra.

De imediato lhes ordenei a desmontagem da “porcaria” da metralhadora, e que com as minhas forças lhes garantiria toda a segurança, e que estava certo que o prestígio e a confiança que o Povo tinha nas Forças Armadas seriam suficientes, para garantira segurança e encontrar a solução, e que se não desmontassem a metralhadora de imediato, quem tomava conta da esquadra era eu, e que se eles tentassem reagir pelo fogo, não deixaria pedra sobre pedra.

Nesta situação, como em todas as que intervim, sempre ficou muito claro sobre quais as alternativas em presença.Sempre foi assim, e esta operação, também decorreu, nestes precisos termos,como sempre: quer com as Forças de Segurança; quer com o povo. Com todos a cooperação foi total, e não houve nem sangue, nem tiros.

Como é sabido e,apesar, dos meus 26 anos de idade, à altura, e 7 de vida militar sabia que não agir prontamente cria um ambiente muito favorável ao descontrolo das emoções, o que, no caso de um agente ou militar mais excitado pode levar a um disparo fortuito, após o que, a disciplina de fogo torna-se muito difícil. Guardo destes policias a imagem de seres humanos muito tensos e nervosos com aquela situação e cooperantes com os militares.

Quanto à população respeitaram sempre as nossas indicações e, como SEMPRE ACONTECEU, nunca se excederam.O seu protesto foi pacifico, exaltado, ruidoso, de grande indignação e revolta- mas sem nenhum acto de violência quer seja agressão, quer pelo arremesso de qualquer tipo de objectos ou engenhos explosivos - pretendiam, simplesmente, a evacuação da esquadra, nada mais.
Durante a noite com a quase completa desmobilização das pessoas estavam criadas as condições para evacuar a esquadra. Todavia esta não foi a decisão, tendo a esquadra sido evacuada no dia seguinte,através de uma força de chaimites do COPCON, comandadas por um Brigadeiro (Major-general, na actual terminologia) com, na minha opinião,excesso de pomba e circunstância.

Julgo que o excessivo dispositivo para evacuar a esquadra aumentou significativamente a adrenalina de alguns, tornando muito difícil garantir todas as condições de segurança e de preservação da dignidade aos polícias
.
Perante a nossa impotência alguns agentes ao entrarem nas chaimites foram molestados, por alguns populares, embora de um modo muito ligeiro fisicamente, mas grave psicologicamente.

De tudo isto penso que se não fosse a actuação do Movimento das Forças Armadas de Vendas Novas teria corrido muito sangue em Setúbal, e que se isto tivesse acontecido, o 11 de Março de 75,poderia ser antecipado, e o seu resultado talvez fosse outro, mas também pode ser certo que estes acontecimentos de Setúbal ainda tivessem reforçado mais a convicção dos golpistas do 11 de Março, para a necessidade de imporem um regime tipo sidonista em Portugal, agora, com o general Spínola.

O ter-se feito gorar estas intenções aos golpistas, e os ter derrotado em 11 de Março 1975, foi muito importante, pese embora, o golpe do 25 de Novembro - traiçoeiro golpe! –que não corrigiu eventuais excessos e erros do período revolucionário, mas sim,por outras vias, muito evidentes, a começar pelas alianças espúrias (Os NOVE com os partidos - PS, PSD, CDS - às ordens os EUA e da Alemanha) traz de volta ao poder real – o económico, terratenente e financeiro - a mesma gente de sempre,as mesmas famílias, que, desde o século XIX até hoje, constituem o grupo social dominante: no fascismo com os monopólios financeiros apoiados pelo estado, e,hoje, com o fruto das privatizações, integrações de empresas financeiras e outras e também com a mãozinha do Estado.

Olhando para tudo o que fizemos, ganhamos e perdemos, e seja qual for o resultado do que se faz hoje, o 25 de Abril, valerá sempre a pena pelo PREC, mas também por todo estes anos de democracia e desenvolvimento.

Todavia se o POVO PORTUGUÊS continuar a permitir a destruição da democracia sem que nasça das entranhas deste povo um Projecto nacional, livre, amigo do Homem, do desenvolvimento e do ambiente SOÇOBRAREMOS, e, mesmo assim, tudo, terá valido a pena…. Mas pobre juventude e pobres velhos (nós) que vamos sofrer o que podia e devia ser evitado, substituindo, sim, o que pouco vale por un Projecto Nacional:

Pela LIBERDADE, A DIGNIDADE, O DESENVOLVIMENTO E O AMBIENTE PRONTOS E PRESENTES!

Janeiro 2013, ano ameaçador de Juízo FINAL!
andrade da silva


https://www.youtube.com/watch?v=UWUtsPIx-3E

1 comentário:

andrade da silva disse...

Ontem, falando com a esposa do grande Dr.Goucha Soares,(como o dr.Xencora Camotim)meu advogado generoso em tantas batalhas,referia-se à grande bondade de José Afonso, solista no grupo coral de que fizeram parte no Orfeão da Universidade de Coimbra.Foi um testemunho que muito me alegrou.

asilva