Arroio que busca o mar e lá chegará sem angústias se a malvadez lhe não erguer represas inúteis ou lhe provocar desvios castradores que interrompam ou destruam o curso natural desde a titubeante nascente ao mergulho ousado e feliz no pélago que o cumpre.
Arroio que humedece com ternura as margens; que acaricia as raízes dos freixos e dos silvados; que dá de beber a quem tem sede; que é tina de quem quer lavar-se ou apenas refrescar-se, na partilha fraterna do leito acolhedor; que cede quanto de si necessita o camponês para a rega das suas culturas.
Arroio que não quer ser mais do que arroio: rumoroso no inverno; cantante e fresco na primavera; um fiozinho de água resistindo aflito ao solar incêndio do estio; alentado de novo pelas primeiras águas outonais.
Ah, meu arroio de alma! Ah, minha promessa de sonho e de evasão! Bem-hajas por seres, desde a minha meninice deslumbrada até a esta anciania sem horizonte, o êxtase da utopia impossível!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 10 de Setembro de 2015.
2 comentários:
CHEGAR AOS HORIZONTES É MUITO,MUITO DIFÍCIL,e também é certo que para água que vai para o mar:não há um voltar,no Alentejo ela não cumpre,vinda dos céus a sua função-é muito,muito,escassa,logo...
abraço
ailva
Querido Amigo, talvez o texto tenha outras leituras para além da que fez. Independentemente do que digo, sempre a minha gratidão por me ler. Abraço fraterno. José-Augusto
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