quinta-feira, 10 de setembro de 2015

05 - POEMÁRIO * O meu arroio



Ah, meu amado arroio! Eu sei, tu és um entre tantos arroios que deslizam nestas planuras da Pátria Transtagana. Um fio de água límpida correndo em doce leito de fundo arenoso e liso a permitir a partilha do espaço e a dar de beber e a refrescar quem passa nas horas de canícula.

Arroio que busca o mar e lá chegará sem angústias se a malvadez lhe não erguer represas inúteis ou lhe provocar desvios castradores que interrompam ou destruam o curso natural desde a titubeante nascente ao mergulho ousado e feliz no pélago que o cumpre.

Arroio que humedece com ternura as margens; que acaricia as raízes dos freixos e dos silvados; que dá de beber a quem tem sede; que é tina de quem quer lavar-se ou apenas refrescar-se, na partilha fraterna do leito acolhedor; que cede quanto de si necessita o camponês para a rega das suas culturas.

Arroio que não quer ser mais do que arroio: rumoroso no inverno; cantante e fresco na primavera; um fiozinho de água resistindo aflito ao solar incêndio do estio; alentado de novo pelas primeiras águas outonais.

Ah, meu arroio de alma! Ah, minha promessa de sonho e de evasão! Bem-hajas por seres, desde a minha meninice deslumbrada até a esta anciania sem horizonte, o êxtase da utopia impossível!



José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 10 de Setembro de 2015.

2 comentários:

andrade da silva disse...

CHEGAR AOS HORIZONTES É MUITO,MUITO DIFÍCIL,e também é certo que para água que vai para o mar:não há um voltar,no Alentejo ela não cumpre,vinda dos céus a sua função-é muito,muito,escassa,logo...

abraço
ailva

José-Augusto de Carvalho disse...

Querido Amigo, talvez o texto tenha outras leituras para além da que fez. Independentemente do que digo, sempre a minha gratidão por me ler. Abraço fraterno. José-Augusto