terça-feira, 6 de setembro de 2016

FORÇAS ARMADAS: TOMBAR EM NOME DE ,POR E COMO?





Há dias assim!

Durante todo este fim de semana, por razões internas às Forças Armadas, que são sempre da Nação, enviei 3 e-mail à associação das Forças Armadas e a vários dos meus camaradas, o último, cometendo ousadia não consentida, obviamente, com conhecimento ao Comando Supremo das Forças Armadas, Assembleia da República e Estado Maior General das Forças Armadas.

E, por causa da foto da criança a chorar a morte do pai, editada pelo meu camarada Cor Paula, falei dos nossos mortos e dos que sinto de mais perto: Cabo Antunes, Mucaba/ Angola, 1972, numa operação militar, em que também participava, era seu comandante de companhia; Alferes Milheiro, cujo quarto fui habitar, Mucaba 1972; o irmão da poeta Glória Machado, na Guerra colonial; o instruendo paraquedista filho do meu camarada sargento Valente, contra quem moveram um processo disciplinar, por não ter deposto contra o seu filho morto, um paroxismo inaceitável, que, como oficial instrutor do processo, denunciei, com o que o general Director dos Transportes concordou; o soldado Ribeirinho, em Timor, no contexto das Missões de Paz da ONU( a sua família foi acompanhada pela tenente psicóloga Paula, do Centro de Psicologia Aplicada do Exército, de que fui comandante); Sargento Roma Pereira no Afeganistão, ( a sua família foi acompanhada pela tenente psicóloga Cristina Vilhena); os nossos camaradas da Força Aérea que caíram no campo da honra, há poucos meses; quando novamente a RTP fala da morte de um camarada( não refere o seu nome, o Hugo, madeirense, my GOD! dor a dobrar) tombado na instrução de comandos,( sobre a instrução escrevo um ps) e, uma vez mais, o meu espirito é assaltado pela questão  - SER SOLDADO E MORRER POR E COMO?


O soldado sabe porque dá a sua vida - DÁ-A SEMPRE PELA PÁTRIA!

Não sabe, muitas vezes , é como e porquê: por imperativo de defender a Pátria; por uma má decisão politica que não lhe cabe discutir, sobretudo, em democracia; por erros militares no planeamento e, ou execução da acção militar, seja em combate, seja em instrução; por grave mau estado de manutenção e segurança do material ou equipamentos para cumprir a missão etc?

Destas circunstâncias nem sempre saberá, por vezes, suspeitamos, antes de partirmos para as missões fatais, todavia, o imperativo categórico e fundador da Instituição Militar leva-nos a cumprir missões no limite, de quando em vez, sob corajoso protesto, mas o Dever - Cumprir a Missão é o nosso DNA, pelo que, confiamos e esperamos, que os Chefes de Estado Maior analisem as ordens politicas, e só mandem executar as legais, legitimas e se impossíveis dentro dos limites do possível e, ou para defender VALORES MAIS ALTOS E TRANSCENDENTES, estes, em qualquer circunstância e com risco da própria vida.

Todavia, perante a morte dos nossos camaradas não devemos cair no silêncio da dor. Choramos os nossos camaradas, honramos as suas memórias, mas temos de questionar a indiferença da Nação e um comportamento quase hostil dos governos, sobre o QUEM SOMOS PARA OS PORTUGUESES E COMO RESPEITAM OS GOVERNOS E OS DEPUTADOS A VONTADE DOS PORTUGUESES NESTA MATÉRIA, e, assim, o meu grito de presente por todos os camaradas caídos, mas a pergunta QUEM SOMOS PARA PORTUGAL?

EIA!

E-mail, enviado à AOFA e a vários camaradas

"Camaradas é mais que tempo de tudo se fazer, no campo da Honra, da Inteligência e do Serviço a Portugal e à Comunidade Mundial, para que NASÇA UM:
PACTO CONSTITUCIONAL PARA AS FORÇAS ARMADAS DE PORTUGAL

Como tenho referido aos dirigentes da AOFA e a vários camaradas, na minha opinião, estamos, quase sempre, na estaca zero na questão da Definição Estratégica Nacional, do que são as Forças Armadas de PORTUGAL. Pelo menos, desde 1996, que é um tempo muito longo, tem sido assim, consequentemente, lutemos para que em Portugal se defina qual o lugar das Forças Armadas: sua Missão ,meios etc. e qual a carreira, formação, avaliação dos militares, como a AOFA está a fazer, mas que deve passar ao nível estrutural e estratégico, e, não tanto, na dimensão conjuntural e táctica, como outros, bem melhor que eu, poderão e deverão recomendar e fundamentar. Tenho que a táctica, sem uma definição estratégica das Forças Armadas, é um mero jogo de politiquices e jogos florais, sem grande desenvolvimento, para além do consumo, pouco eficaz, de tempo, energia e capital profissional, moral e intelectual.

Creio que tendo o General Vizela Cardoso ( a quem saúdo) um verbo muito vigoroso - muito pouco vulgar - para assuntos da politica corrente, poderia, entre outros, usar o seu capital moral e prestigio para defender, com vigor e superior mérito uma DEFINIÇÂO ESTRATÉGICA PARA AS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS, AO NIVEL DE UM PACTO CONSTITUCIONAL. E, naturalmente, creio que o actual Comandante Supremo das Forças Armadas pode dar o seu acordo e empenhar-se na realização deste Desígnio Nacional, de SEMPRE!

Deixo o apontamento…e "quem faz o que pode, faz o que deve,,," (Torga)

Abraço de leal camaradagem e serviço a Portugal e às Forças Armadas

Andrade da Silva

Nota: Para os efeitos convenientes , dei conhecimento deste E-mail ao Comando Supremo das Forças Armas, Assembleia da Republica e ao EMGFA "
.......
Espero que para além das palavras de circunstância e dos gritos de guerra não esqueçam as famílias dos militares caídos, mas tenho dúvidas, que assim aconteça sempre. Alguns desses familiares estão no desemprego à procura de emprego, então, tudo estará bem?



PS: A INSTRUÇÂO MILITAR.

                                                    (Declaração de um recruta)





Fui instrutor, antes e depois de ter participado na Guerra colonial, fui praticamente sempre instrutor, e desempenhei funções de comandante de companhia de recrutas. Sempre tive como lema preparar os recrutas para os piores cenários. Se estes acontecessem, estaríamos relativamente preparados, se não acontecessem, seria uma vantagem.

Os meus pelotões eram conhecidos pelos jacarés de que alguns se recordam, como Paulo Telheiro, isto é, não conhecíamos nem o cansaço, nem obstáculos intransponíveis, ou seja, uma instrução no limite, reconhecida por todos como tal, aliado a um sentido de amizade , camaradagem e justiça reconhecido pela maioria. Da sua utilidade tive prova nas companhias por onde passei, em Angola.

Todavia, a instrução tem elevados riscos, no meu caso, como instrutor, tive dois casos graves: um em que fui a vitima, levei com um pedaço de uma rosca de um petardo num pulso. Fui evacuado do campo de instrução ao cair da noite, ainda, oiço algumas sussurros como:” deste "diabo" ficamos livre, já não vamos ter petardos pela frente” ... era verdade, coisas...

O segundo caso, em 1973, foi com um instruendo de CSM, numa prova programada de progressão debaixo de fogo real, foi atingido por uma bala que fez ricochete, e alojou-se na zona do pulso.

Conduzi o jeep que o evacuou, ia atropelando o Major Nascimento, depois acompanhei-o de Vendas Novas para Lisboa na ambulância militar que não tinha sirene, mudamos para um ambulância dos Bombeiros de Vila Franca que ainda teve um pequeno choque ao entrar em Lisboa... coisas... deste acidente, do instruendo, fiquei muito impressionado, por ser um militar do meu pelotão, e, porque o desfecho poderia ter sido pior - não era apologista destas progressões e em boa verdade na tropa normal não tínhamos competência para as executar, mas... - contudo, o que mais me chocou foi que, contrariamente ao anterior sussurro, este instruendo, muitas vezes pareceu-me mais preocupado com a minha desolação do que com ele ,e ia dizendo-me : O Meu tenente não teve culpa!

Julgo mesmo que não, porque deve ter sido atingido pela aspirante que disparava á minha esquerda, e que pode ter aproximado mais a linha de tiro do instruendo ou este ter hesitado mais na velocidade da progressão... não sei. Balisticamente não tive culpa, nem ninguém, a bala foi um ricochete, vindo da rectaguarda, como estava na perpendicular ao instruendo, no momento do acidente, era quase impossível ter sido eu a atingi-lo, mas... coisas.. a dor ficou...

A instrução tem altos riscos que devem ser calculados e acautelados, mas... apesar de nas instruções que dei ou supervisionei nunca ter permitido praxes ou abusos, sobretudo, como capitão, nos meus anos de alferes e tenente pisei muitas vezes a linha vermelha, mas nunca qualquer superior hierárquico o referiu, e o deviam ter feito. O meu entusiasmo e amizade aos instruendos, como consta das folhas de informação dos meus superiores hierárquicos e das centenas de avaliações que antes e depois do 25 De abril 74 pedi para que livremente, anonimamente ou não, todos fizessem, ressalvou alguns excessos, embora sem consequências... coisas...

Sem comentários: