
Rui Tavares que é um pessoa inteligente, com muitas metáforas, bom verbo, levanta, num seu artigo do Público, as razões do insucesso do Centro-Esquerda nas últimas eleições europeias, conquanto a abstenção fale mais alto de um gravíssimo insucesso da democracia, (60% de abstenção) do que de vitórias, tem razão no que diz quanto à má Governação dos Partidos Socialistas.
Todavia, Rui Tavares e muitos outros, não consideraram uma dimensão histórica elementar que é a de que os Partidos Socialistas/ neo-liberais existiram para cumprir uma etapa histórica do capitalismo especulativo, inclusive em matéria das polícias de informações que a partir de Outubro podem ser uma grande dor de cabeça para mais de 2/3 do PS: Ana Gomes, Cravinho, Santos Silva, os membros da Comissão Parlamentar ao BPN (não vejo como é que o deputado Nuno Melo não vai atrapalhar a coligação PSD- CDS, se a PSD-PS, ou PS-PSD forem inviáveis) e o Sr. Eng. Sr. Sócrates, se perder as eleições pode ver-se em palpos de aranha, porque tem uma forte critica dentro do PS, os tais 6 ou mais % de eleitores que foram direitinhos para o bloco de esquerda e outros tantos ou mais para abstenção e muitas histórias que não o pouparão, até porque os banqueiros são ingratos, e a internacional socialista e a ONU identificam-se mais com figuras, como Guterres ou Jorge Sampaio para cargos humanitários.
Todavia toda a inteligência de Rui Tavares não ilude duas questões:
1- A falta de uma linha de actuação consistente do bloco de esquerda, que é o partido da contestação jovem, urbana, sem um projecto politico e de sociedade consistente, mas que conseguiu atrair o voto dos desiludidos do PS que pensaram que a iniciativa da Grande Esquerda seria a base de lançamento de um outro sujeito politico que pudesse fazer o que aquelas iniciativas se propunham, mas que o Bloco de Esquerda não pode fazer;
2- O Bloco de esquerda, tal como existe, não poderá criar e muito menos gerir aquele grande projecto de acção e mudança da Governança, numa primeira etapa, em Portugal e depois na Europa. Mas porque a ilusão do Bloco de Esquerda é tão cara ao sistema capitalista especulativo, toda a Comunicação Social dos banqueiros e grandes empresários tem dado toda a projecção ao BE, nomeadamente para que Rui Tavares vá defender a governabilidade do país assente no conceito de geometria variável, que será uma coisa assim, se um PS minoritário ganhar poderá fazer acordos com o BE para os casamentos dos homossexuais, mas o BE, parece, assim, aceitar que esse mesmo PS faça acordos com o PSD para o inaceitável agravamento do código de trabalho, que desrespeita a necessária e legitima conciliação da vida profissional com a da empresa. Ora este conceito de geometria variável prova como o Bloco de Esquerda poderá vir a ser o partido do queijo limiano à esquerda, como o seu antónimo, CDS, o é à direita
Como Rui Tavares é jovem, fala muito, é espontâneo, diz coisas que talvez ao BE não interessaria sequer que se suspeitasse, mas se Rui Tavares quer uma verdadeira e consistente mudança na politica Nacional e Europeia enganou-se, na minha opinião, no instrumento, porque a reinação dá enquanto dá. É preciso operacionalização, o ruído não é obra, o teatro não é a realidade,
Creio que Rui Tavares verá goradas as suas generosas expectativas, mas disso não vem nenhum mal ao mundo, mas, agora, por falta de um SUJEITO POLÍTICO FORTE QUE COM BASE NA DIGNIDADE, NA COMPETÊNCIA, USE BEM, E DE UM MODO TRANSPARENTE, TODOS OS RECURSOS ECONÓMICOS, SOCIAIS, CULTURAIS, JURÍDICOS, FINANCEIROS E DE CIDADANIA QUE A DEMOCRACIA DISPONBILIZA, COM O DESÍGNIO DE TRANSFORMÁ-LA DE DEMOCRACIA ABSTENCIONISTA E PARTIDOCRACIA EM DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, PARA CUMPRIR O OBJECTIVO FUNDAMENTAL DO DESENVOLVIMETO GLOBAL DE PORTUGAL E DOS PORTUGUESES, ENTÃO, SIM, TEMOS UM GRAVE PROBLEMA E UMA PROFUNDA CRISE À VISTA.
Nesta encruzilhada da História de Portugal e da Europa é preciso um novo sujeito político, com uma nova concepção da política e do serviço público, com um projecto consistente de poder e sociedade que mobilize os portugueses para a arrancada deste século que alguns sonharam com as iniciativas da grande esquerda, mas que, na minha opinião, foram goradas, o que, levou a que, ou por um erro lógico, ou de contágio, ou mesmo de condicionamento clássico alguns dos que queriam a tal mudança, tenham não votado onde melhor o seu sonho se realizaria, mas onde menos fosse prejudicado.
Numa palavra o País, a Europa precisam da emergência de novos sujeitos e novos lideres, e digo-o sem a menor contaminação por qualquer Obamania, porque muito antes do fenómeno Obama já o tinha escrito no blogue do Expresso e no silenciado Avenidadaliberdade da Associação 25 de Abril, inclusive, através de memes aí publicados dirigidos ao deputado Manuel Alegre.
Concordo com Rui Tavares que a sociedade portuguesa só ganha com a pluralidade. Todavia ao nível dos projectos de poder tanta pluralidade pode não ser benéfica, sobretudo porque é à esquerda que mais surgem , e é onde, é mais difícil conseguir o menor denominador comum; quando a direita o tem - o lucro, sem qualquer controlo, do capital financeiro, com generosas recompensas para os seus técnicos e cooperadores directos e indirectos, na ordem dos 10,15, 20% da população em Portugal e de uma taxa significativamente superior na Europa, em que os salários mínimos ultrapassam os mil euros, e há uma mais equitativa distribuição da riqueza.
Que emirja a força que quer construir DEMOCRACIA com os cidadãos e não sobre a sua desistência!
Asilva 10 Junho de 09