domingo, 22 de novembro de 2009

VOZES DO ALENTEJO




Caros Militares de Abril!

Ao entrosamento da vossa luta heróica, com povo genuíno do país, se deve o 25 de Abril de 1974.


Era eu uma criança de apenas 13 anos, quando vós militares de Abril, irromperam das trevas, libertando o povo que viveu amordaçado, por 48 anos de fascismo.


Tive o privilégio de conhecer e admirar o, então, Cap. Andrade da Silva, que era o nosso herói na defesa da Reforma Agrária em Montemor.


Com o meu pai, fundador da UCP Maria Machado, no concelho de Montemor-o-Novo, acompanhei todo o desenvolvimento desta UCP, cheguei a ser seu trabalhador, partilhei a imensa alegria, entusiasmo, de centenas de pessoas que nela viram pela primeira vez ser reconhecido o resultado do seu trabalho, sem exploração, nem opressão, sem ditadura.


Foi sem duvida a mais bela conquista de Abril, mas que incomodava muita gente, que apressou o seu fim, onde os militares que nela estiveram envolvidos, como vós, acabaram por ser silenciados, humilhados, amordaçados, espezinhados e por último marginalizados, mas a história e o povo desta terra jamais vos esquecerá.


Temos que voltar a entoar bem alto a palavra de ordem, "O Povo Unido jamais será vencido!"
Obrigado Artur, obrigado Andrade da Silva, obrigado militares de Abril, por tudo o que fizeram por este povo genuíno do Alentejo!

Bem hajam, e a luta continua!


Alexandre Júlio
( reprodução de um comentário a um post)




Caro Amigo Alexandre e demais Companheiros de Além Tejo

Por vezes parece que há algo que nos transcende para além da generosidade. Não é que neste fim de semana, tive de escrever sobre o quanto defendi gente indigna -os latifundiários e os seus capatazes - que roubaram vidas, deram fome e escassez de trabalho aos trabalhadores alentejanos, e que, pós 25 de Abril, tudo queriam sabotar. No Alentejo deixou de haver trabalho e cultivo, e foi para não se matar Abril, ou o povo alentejano, que a partir de Março de 75, depois de se falharem muitas outras alternativas e por total falta de capacidade dos latifundiários, se avançou para a reforma agrária.

Nesse trabalho desde a hora alva até depois da meia-noite, andei de um lado para outro a apagar incêndios, evitar mortes e a fome, fazer com que Abril vivesse. Por ter estado ao lado dos descamisados alentejanos fossem do PS, do PCP, da UDP ou do PSD fui deportado para a Madeira, após o 25 de Novembro, acusado de comunista, mas a verdade é que sempre a todos ouvi, e defendi os seus direitos: trabalhadores, agrários e até dignitários do regime fascista, como foi o caso do Sr. Elmano Alves, último Presidente da Acção Nacional Popular. Sempre garanti que a luta que travávamos não era contra as pessoas, mas sim contra as estruturas económicas, politicas e policiais do regime deposto.

Sem nenhuma dúvida sempre estive e estou ao lado da justiça, da dor e dos que têm fome. Considero hoje espantoso o que, então, fiz com 25 anos, quando, hoje, olho para jovens com a mesma idade . É também admirável que seja o Alexandre a fazer tão generoso, quanto realista juízo, quando tinha, então, 13 anos, facto que, em 77, o Eng. Acácio Monteiro referiu em pleno tribunal militar, afirmando que as crianças falavam do capitão Andrade da Silva, à sua mulher, professora, como um herói.

Sempre e só estive ao serviço da Revolução do 25 de Abril, outros escolheram o 24 de Abril e o 25 de Novembro, a minha barricada foi uma, e uma só, o 25 de Abril 74, O POVO PORTUGUÊS e PORTUGAL, e, daqui, nunca saí, “não saio, nem ninguém me tira”, como se ousa dizer no bailinho da Madeira, terra que me viu nascer.

Havemos falar dos sonhos que acalentei para a produção no Alentejo. Estão escritos desde 76, e também dos meios que pedi para fazer o que devia ser feito, incluindo o respeito, pelo que fosse legítimo do lado dos proprietários.

Mas a reforma agrária com eventuais e inevitáveis erros que precisariam de ser corrigidos foi um grande feito do 25 de Abril. Sou um homem da cidade, mas sinto um grande orgulho por ter estado ao lado do povo alentejano, e até ter merecido que o meu nome fosse dado a uma pequena cooperativa, de 50 trabalhadores, em Montemor, que era uma jóia.

Mas o ódio e as trevas têm ferido Abril

Como diz o Alexandre fomos marginalizados e calados não só pela direita fascista, mas também pela esquerda, porquê? Porque apesar de querer ir nos 25 de Abril ao Alentejo e noutras ocasiões não o tenho conseguido?

Abraços e saudações de Abril para às minhas queridas e queridos companheiros do Alentejo.

Andrade da silva


sábado, 21 de novembro de 2009

BILHETE


LUZ E PENUMBRA


Dia longo e distante,
Partistes, há tanto,
Com alegria imensa.
Chamava-te, manhã cedo,
O destino.
Corrias, como os ventos,
Para esse futuro.
Vencestes a escola,
Nova escala Paris.
Eras alegria, generosidade
E graciosidade,
Luz e penumbra.
Quebrou-se a luz,
Levantou-se a penumbra.
Partistes …
Vieram umas cartas.
Depois,… caiu o silêncio.
A generosidade e a alegria
Cedo morrem.
A graciosidade é abismo.
Será que?...
Talvez não!.... Não!...
Viva está a lembrança.
A saudade e a dor ferem.
Até sempre!...
Teu nome já esqueci.
O que é um nome?...
Mas de ti nunca:
És luz e penumbra,
E, agora, este nó seco na garganta.

Luz e penumbra:
Viver, amar, morrer…
Estes fados das gentes,
Que vos dizem, Deuses?

Andrade da silva

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

SOU UM ZOMBIE NO MEU PRÓPRIO PAÍS, OU SERÁ NA ZOMBIELAND?



Vejo pessoas sem tino a correrem de um lado, para outro, a todas as horas e em todos os sentidos, mas onde vai toda a gente, sempre a correr? A este velho vejo-o, aqui, com os pés entrapados, às 7 e 30 a correr, mas para onde? Vai a uma consulta do SNS? Mais à frente vai uma rapariga a correr por atalhos enlameados, vai de ténis e leva mochila, vai a caminho da escola, por certo terá aulas, se não houver greve, manifestação, ou gripe A.

As pessoas correm em todos os sentidos, mas para onde vai esta gente, até parecem os seus substitutos máquinas, os seus clones, mas o diabo é que são as pessoas, elas próprias. Endoidaram, não entendo, mas esta gente vive?
Não me parece. São zombie's , como eu, ou não? Com certeza endoidei.

Na televisão vejo Helena Roseta com coragem a dizer que a justiça pode ser cega, mas a investigação não, depois vem João Soares a comparar todas as escutas com as torturas de Guantamano ou da PIDE, mas quem fala certo, Helena Roseta, ou João Soares? Creio que é Helena Roseta, salve Helena! Ou serei zombie?

Oiço o Sr. Presidente da República dizer que está preocupado com a corrupção, mas quando era Primeiro-Ministro dizia que o pais não era corrupto, como sou zombie penso que em Portugal há imensa corrupção, e não entendo que num caso que corre os seus termos nos tribunais, o Sr. Presidente da República diga que está preocupado, mas confia no ânimo dos portugueses. Como antigo docente de comunicação esta frase é ambígua, é um enigma, quer dizer que somos zombie's e temos ânimo para aguentar toda a estrumeira que nos cai em cima, ou quer dizer exactamente que vamos ganhar ânimo para varrer toda a má moeda, mas, neste caso, onde pára a boa moeda? Como zombie de vistas curtas só vejo lama, lama, muita lama por todo o lado.

Há zombies honestos, mas estão todos de cócoras a borrarem-se nas casas de banho, ou atrás de árvores. Somos um PAÍS POVOADO DE SOMBRAS E MEDOS, 9 milhões 999 mil e 999 medos. Só há uma coragem que és tu, mas onde estás, dá um sinal, se não fores o regresso de D. Sebastião ou Salazar - ambos começam com “S”, o que dirão, os interpretadores cabalísticos?

Dizem, se bem se lembram, que com o Presidente Sampaio foi o caso do envelope nº9, diz um dos oráculos do regime, o Sr. Luís Salgado, que o Presidente foi vigoroso a pedir respostas urgentes, investigação célere, só que o seu vigor foi pouco ouvido, e as respostas não foram tão claras e rápidas, como deveriam ser, então, para serviu tanto vigor? Como zombie não entendo.

Oiço de novo outros oráculos como o Sr. Costa Pinto a declarar que os governantes têm de responder perante os tribunais pela corrupção politica e pessoal, ora, que novidade?

Mas agora acabo de ouvir pelo presidente de um sindicato judicial que o presidente do Supremo Tribunal não pode mandar destruir provas, que esta competência é do juiz de instrução patrono do processo, mas o mesmo Sr. Juiz do Supremo diz que só ao tribunal compete decidir a sua competência. Admirável, fico estupefacto. Fico mais zombie.

Mas hoje aprendi muito, muitíssimo, segundo o grande estadista Dick Cheney, antigo vice-presidente dos EUA, os governantes quando pressionados pela controvérsia esquecem-se que foram informados. E esta!

Quem diria que a psicopatologia da negação é uma doença psicológica dos governantes. Quem o diria!? Caras e caros colegas psicólogos tendes muito, muito trabalho pela frente. Como psicólogo de aconselhamento psicológico, aconselho a terem juízo e, mais, e sobretudo, a serem competentes e probos. E, assim, dei o melhor e maior conselho de um modo generoso.
Segui-o!

Andrade silva

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL DA UNESCO
Negrito
Www.wdl.org


Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos
e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas
as bibliotecas do planeta.

domingo, 15 de novembro de 2009


Como frase suave
ou poema candente
tudo o que digo, sente.

Ergo a voz à estrela d' alva
vinda desde a escuridão
como se cada palavra
fosse mais que luz ou pão.

Sento-me à beira da estrada
a ver passar o caminho
há tanta gente parada
que parecemos não ser nada
além de mundo sozinho.

Nem um gesto nem aceno
cortam a voz a luzir
cada um de nós tão pequeno
no universo por abrir.


Marilia Gonçalves

sábado, 14 de novembro de 2009

13 - REFLEXÕES DE G.F. * Caminhos...



Impenitente aprendiz, registo os sinais da memória vigilante. Aqui, é um caminho sem pressa de chegar; alí, é um valado bem guardado de silvas, amodorradas ao sol, enquanto as suas amoras amadurecem a saborosa guloseima da passarada; além, é o monte silencioso, no abandono da terra; mais além, em todo o derredor, é o azul, numa campânula celeste de parada beleza.


Ah, Se fores ao Alentejo, / não bebas em Castro Verde, / que as fontes cheiram a rosas / e a água não mata a sede.

O silvo de um comboio corta o silêncio. Os carris rasgam a imensidão das herdades. São raras as povoações que serve neste percurso ferroviário do Barreiro à Funcheira. Muitas das estações ficam a uma distância de quilómetros. Algumas já foram desactivadas e, ao abandono, arruinam-se. O critério que determinou o rasgar desta Linha de Sul não teve seguramente a finalidade de servir as populações. Assim foi no século XIX, assim foi no século XX, assim continua neste século XXI.

Aqui, as minhas primeiras idas a Lisboa eram uma aventura: de churrião, cumpria os quatro quilómetros da vila até à estação, estação que foi desactivada, se a memória me não trai, na década de sessenta do século XX. Hoje, para utilizar a linha férrea, terei de cumprir seis quilometros, de táxi, até à estação mais próxima, situada noutro concelho.
Uma maravilha de serviço público!

Há cerca de ano e meio, devido a internamento hospitalar de minha mulher, em Évora, durante um mês, utilizei, diariamente, o transporte colectivo rodoviário. Apenas de segunda a sexta-feira, por não haver esse transporte aos sábados, domingos e feriados.
Outra maravilha de serviço público!
Este é o país real.

Até sempre!
Gabriel de Fochem

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DOS DIAS GLORIOSOS DO 25 DE ABRIL E DA NOSSA ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA (VENDAS NOVAS)

( escola prática de artilharia vista por uma criança)


CARO CAMARADA DE ARMAS ARTUR




Como tu agradeço aos deuses terem-nos posto na mesma rota.

Quanto ao teu comentário no post, " Caravela e Casquinha", naturalmente que seria uma falsa modéstia não dizer que me reconheço como uma pessoa que não se rende, que luta pela justiça, que ama o próximo, que do 25 de Abril conheceu mais os seus cardos, que foi mandado para Madeira para que a Flama, através do bombista Firmino cumprisse a sua missão, ou seja, me eliminassem, do que em 27 Março 76, em exposição escrita, dei conhecimento ao governador militar da Madeira, brigadeiro Azeredo, que pura e simplesmente me mandou "passear", e resolver o problema como pudesse que depois me ajudaria.

Nesta deriva de ódio, pós 25 de Novembro de 75, os avós do actual estado de coisas, em Abril de 1976, um grupo com cerca de quinze marginais, os Diabos à Solta, cercou-me para me espancar e mesmo matar, tive de me defender. Resultado foi preso por dois anos por agressão com arma ao bando que entre si se matavam, mas eles, para o juiz Alfredo Rui Gonçalves Pereira, homem que Marcelo, ao que diziam, recusou para os tribunais plenários, por ser um “ carrasco” eram os cidadãos exemplares, eu, não, portanto condenou-me, muito embora, o juiz Presidente desse tribunal, o 3º Tribunal Militar, Coronel João da Cruz Novo, tenha dito aos meus advogados Dr. Xencora Camotim e Goucha Soares e a mim próprio que eu estava inocente, o que era mais que evidente.

Esperaria que antes da morte este juiz se confessasse e declarasse a verdade que o poder de, então, esqueceu, nomeadamente, o Conselho da Revolução e o Sr. General Eanes que como Chefe do Estado Maior do Exército me mandou para a Madeira. Depois de me ter recusado a embarcar por duas vezes, das razões porque me recusei dei conhecimento pessoal ao Sr. General Eanes e ao Vasco Lourenço, mas nada disso valeu.

Ainda devia ser preso mais uma vez por ordem do Sr. General Garcia dos Santos, ao que dizem capitão de Abril, por ter apresentado pedido de escusa dos Srs. generais do Conselho Superior de Disciplina do Exército que com base num processo feito contra mim, por causa da minha intervenção legal na Reforma agrária, e louvada pelo Coronel Torres de Magalhães, por ser um militar sempre disponível para as missões difíceis, facto verdadeiro, me queriam expulsar do Exército.

A manobra era fácil, o que antes fora heróico, levou a que indivíduos sem rosto, tenham revertido para acusação que era um oficial ao serviço do PCP, calúnia miserável e evidente já na altura, e cada vez mais, se olharmos para o distanciamento como a hierarquia do PCP sempre me tratou, embora com grave injustiça, porque de um modo abnegado servi as populações alentejanas de quem mereci grande amizade, e que na sua maioria eram comunistas. Mas nunca a ninguém perguntei pelo cartão, e ajudei a proteger latifundiários e sobretudo os ceareiros do Couço – vistos como tiranos e capatazes cruéis e desalmados ao serviço dos grandes proprietários.

Tudo isto para dizer que os cardos que ferem quem procura servir o seu Povo em liberdade e no amor vêm de muitos lados, assim, é mutilado, ofendido pelos fascistas, mas também muitas vezes é injustiçado pelos que dizem estar ao serviço do Povo, da Liberdade, da Fraternidade e da justiça Social.

Seja como for, nunca me afastei destes princípios e deste caminho, mas só posso fazer o que posso, vou ladrando, uivando, porque também a democracia que ajudei a fundar, denunciando já em 1972 a podridão do fascismo, regime mais podre que o actual, é surda, inacessível para os que a servem, e só dá ouvidos aos burgueses instalados, como Marcelo Rebelo de Sousa, ou ao Sr. António Barreto, responsável pela legislação pró-latifundiários que pariu, em nome da qual o Alentejo foi em termos militares literalmente ocupado, pela GNR, do que resultaram dois mortos, um deles um rapaz de 17 anos com o nome frágil e trágico, de Casquinha, pesadelo que todos parecem querer calar, porquê?

Mas seja como for, de tudo resta o SOL que encontro na amizade e nas palavras generosas de camaradas de armas, como as que escrevestes no teu comentário, nas de outras pessoas amigas, como as do grande combatente da liberdade António de Matos, poeta magoado, com quem estava quando me encontrastes, de Maria José Gama, de Jerónimo Sardinha, de centenas e centenas dos meus soldados que muitos não sabendo escrever lá disseram deste homem que vos escreve - justo, amigo exigente, muito duro na instrução.

Reconheço os louvores e as queixas, mas a grande verdade é que os estimava e sempre a todos tratei como pares entre pares, enquanto cidadãos, o que está bem patente nas sobre-recompensas e na punições por excepcional excepção que atribui. Puni ao longo de 40 anos de profissão, 4 vezes, e em três não tinha nenhuma alternativa: estava em causa um roubo provado, uma ausência repetida ao serviço, outra, uma agressão por um soldado a um sargento na guerra, em Mucaba, o que poderia ser objecto de julgamento em tribunal com uma pena mínima de 2 anos de prisão.

E de tudo restará sempre a expressão de amizade que vejo nos encontros que a vida vai permitindo com as pessoas do povo do Alentejo, como o poeta Alentejano Filipe Chinita, e de toda a parte, com os meus antigos camaradas de armas como tu, Artur, o Campos, o Firmino Mendes, o Pauleta, os, então capitães de Abril Ferreira de Sousa e Castro Pires, todos da Escola Prática de Artilharia, o Celestino ( Mucaba/Angola), o Berto e o Daniel com estes dois últimos estive em Lumbala Velha, Angola, e que fazem parte, desde 71/72 dos meus diários de guerra. Fi-los na guerra e na prisão.

Caro Camarada de Armas Artur

O teu comentário levou-me a falar de mim, faço-o sem nenhuma vaidade, os que me conhecem sabem que tenho orgulho em ser quem sou, em ser reconhecido pela gente gloriosa de Portugal, mas todos sabem que somente me sinto um cidadão entre cidadãos, mortal, plebeu, vivo de acordo com o estatuto dos plebeus remediados, amigo do amigo e que não entende a injustiça social e luta contra tanta maldade.

Ao fim e ao cabo um entre iguais, que tem algumas histórias para contar e muitas outras para ouvir, o que fazia exactamente no dia que me encontrastes. Naquela altura ouvia o Matos que me quis falar pelo facto de eu ser o Andrade da Silva, e ele querer relatar algumas das suas feridas, ouvi-o. Embora por razões diversas sofremos os picos dos cardos, o que me leva a compreender muito os seus gritos de alma e a sua dorida poesia.

Mas nunca nada poderá pôr em causa a grande Gesta do 25 de Abril. Hoje há sombras, mas está nas mãos do Povo dissipá-las, e, por isso, me bato em todos os espaços,todavia tenho de reconhecer que estou emparedado, como muitos outros, por dogmatismos, incompreensões, verdades absolutas, caminhos únicos, oportunismos, cobardias, hipocrisias de dimensão brutal que fazem deste país um lamaçal, onde, falece a liberdade de pensar, servir e amar fora das cartilhas estanques, sendo este autismo o principal e mais grave mal deste dias de vésperas.



Caro amigo Artur

Muito Obrigado pela tua generosidade e amizade que me levou a falar destas coisas que, pelo menos, podem interessar aos amigos.

Abraço fraterno para ti e todas as amigas e amigos

Asilva.
PS: Não posso deixar de referir-me nestas andanças de Abril e pós Abril, o já muito antigo companheirismo de Isabel Pestana, Madeirense dos sete costados e filha do Coronel Pestana do assalto ao quartel de Beja, e que antes visitara o pai na prisão, e depois do 25 de Abril, este seu amigo na prisão da Trafaria, muita outra gente me visitou a Modesta do Couço, o Inocêncio de Vendas Novas, a Quinita de Almada, a Luis João, o Gen Fabião, o Gen. Vasco Gonçalves,o Otelo, o Ferreira de Sousa e a mulher que foram incansáveis e muitos, muitos outros a quem estou eternamente agradecido, e ainda nestes tempos que correm a Marilia, poetisa e combatente por Abril destemida e vigorosa, a Sandra e a Lidia que me apoiam neste modo chão de dizer estas coisas.
A todas e todos aquele abraço de Abril, e como todos sabem se falo é por um impulso moral e ético, porque o que mais desejo é calar-me. Diria também " este não é o meu reino", mas talvez por esta percepção ainda não me tenha calado, porque também penso que este Portugal não é o país de muita gente quer dos que emigram, quer dos que cá dentro sucumbem e desesperam.