Fiz do medo
um brinquedo
que trazia na palma da mão.
Fui menino enjeitado.
Fui soldado.
Fui adulto explorado.
Fui vexado.
Vi o medo tolher
quantos homens sem medo!
Vi crianças comer
um bocado já duro de pão.
E vi mães em segredo
a beijarem o pão que caíra no chão!
Eu vi tudo o que havia de feio!
E passados que são tantos anos,
um amargo receio
de não ver
esta safra de enganos
finalmente ceder
à verdade de ser.
Um receio doído,
como a fome sem pão,
como um homem traído p'la vil delação,
como a flor da esperança
que a vergonha dos homens insulta
na inocência das mãos da criança
na inocência das mãos da criança
condenada a nascer já adulta...
José-Augusto Carvalho
20 de abril de 2002
Viana do Alentejo * Évora *Portugal
1 comentário:
Meu Caro Zé-Augusto,
Da profundidade desse sentir, viemos nós ainda há pouco.
Suspeito também, tal como o vate, que para lá caminhamos de novo e aceleradamente.
Profundidade do sentir. Profundidade do dizer.
Profundidade do ser.
Obrigado,
Jerónimo Sardinha
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