quinta-feira, 2 de outubro de 2008

DEUS




O Padre Lino, meu professor de Religião e Moral, no liceu Jaime Moniz do Funchal, dizia, com toda a ciência e verdade do Mundo, que a existência de Deus não se discute, nem é discutível, ou se acredita, ou não se acredita. Continuo a pensar que é assim.

O mesmo padre, ou outros, nas minhas andanças pela Igreja Católica que foram profundas, de missas e comunhão diárias, cursos de cristandade e chefe de pré e JEC, de que fui secretário Diocesano, diziam que a questão da fé era uma consequência de se ser tocado pela Graça Divina.

Depois de ter descoberto que na Igreja Católica uns eram mais filhos de Deus que outros, naquele tempo, por exemplo, o pai do actual secretário de estado do turismo, o Sr. Trindade, era um dilecto, o meu grupo de Pré-Jec, não, e da passagem pela Guerra de África –momento crucial político-religioso e pessoal da minha vida - tornei-me agnóstico.

Conheço a doutrina da revelação e parte das teorias científicas do Big -Bang, e, consequentemente, honestamente, não sei se Deus existe ou não, apesar de conhecer a teoria pragmática de um autor de renome que li, e não recordo o nome, que na dúvida há toda a vantagem em se ser crente, porque se Deus existir ganha-se a salvação, mas se Deus não existir não se perde nada. É uma posição simpática, mas moralmente inaceitável.

Mas Deus existirá, sempre, por maldade e negócio de muitos, mas, e sobretudo, como a última esperança, a única luz, para milhões e milhões de náufragos e gente bondosa que não encontram significado suficiente nesta vida, e Deus, a eles, revelou-se, de um, ou de outro modo, e ainda bem, se promoverem as bem-aventuranças, do Amor, da Beleza, da Paz. Mas Malditos sejam, os que de Deus se servem, para martirizar os pobres -de- Cristo.

Mas como agnóstico, ainda, me atrevo a, religiosamente, fazer a minha oração:

Que OS DEUSES BONDOSOS NUNCA MORRAM, mas que os DEUSES DA GUERRA E DA FOME MORRAM PARA TODO O SEMPRE.

Andrade da silva 2 Out. 08

3 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Agnóstico também, acredito nas organizações humanas de beneficência e de protecção social. Essas podem, por vontade dos homens, resolver ou atenuar grande parte dos males que afligem a sociedade. Todavia, para que possam desempenhar a sua acção tem de haver vontade política e tem de haver políticos que queiram reconhecer a pobreza e estar ao lado dela defendendo-a da ganância dos ricos e exploradores.

Os homens ainda não criaram o deus socialista, aquele que luta contra todas as forças da exploração do homem pelo homem. Esperemos que as sucessivas crises financeiras possam ajudar a abrir as mentes para a «teologia socialista» única capaz de gerar situações de maior justiça na sociedade humana.
Um abraço

Jerónimo Sardinha disse...

Que bom seria, se Deus ouvisse a tua prece final,

Caro Companheiro Andrade da Silva.

Realmente, é muito difícil a equação que nos pões !
Em nome de um Deus se contam milagres e prodígios, benditos e benquistos para a humanidade em geral e ao homem em individual.
Mas também em nome do mesmo Deus, existiram e trabalharam bem, Torquemadas e quejandos, actualizados nos dias de hoje, com a família malaia, que em nome de um deus (uma religião), espancou até há morte um casal, seu famíliar, para o libertar do hábito e vício de fumar. Creio que a libertação terá sido plena, pois não há notícia de que os mortos voltassem a infrigir, mas o crime hediondo praticado em nome de um deus é afrontoso para todos os seres vivos. Não só os ditos pensantes.
Em boa verdade, a equação humana do divinatório, está muito longe de ser resolvida. O homem, como sempre e porque os tais deuses não castigam, no imediato e com espalhafato 'jornaleiro', criou (e vai criando) formas exploratórias dos seus semelhantes em nome de ...
Naturalmente, são privilegiados com procuração passada, caso do muito chegado 'ao alto' senhor Busch, que todos criticam, quando o senhor tudo o que tem feito é obedecer a ordens recebidas do seu deus, seja ele qual for.

Mais seriamente. A humanidade precisa de, em tempos dolorosos ou complicados, agarrar-se a qualquer coisa que lhe minimize os padecimentos. Os homens de decisão, precisam de se sentir justificados dos seus actos menos dignos ou menos contidos. Faz jeito uma deídade que o suporte. Assim toda a consciência é lavada e alíviada, ficando disponível (alegremente) para a próxima injustiça.
Deverá existir algo, superior, com muito mais tino, equlíbrio e misericórdia do que o palpável. Porquê ?
Porque com a trampa que temos feito, aperfeiçoado e desenvolvido, esta coisa chamada 'humanidade', há muito se teria aniquilado e extinguido.
Que se lhe chame Deus, palavra intraduzível e de impossível interpretação humana, é dispiciendo. O importante é que com/ou por tal se mentenha alguma salubridade mental e algum equilíbrio existêncial.

Bom artigo e profunda reflexão.

Qualquer dia engrossas as fileiras dos místicos, o que é sempre expoente de capacidade intelectual.

Que tua prece final, repito-o, seja ouvida.
Com um abraço amigo,
Jerónimo Sardinha.

andrade da silva disse...

Caros Companheiros

Obrigado pelas vossas avisadas palavras.

Todavia a teologia socialista, por ora, fica adiada, porque a crise vai ser salva com as mesinhas de sempre para evitar a recessão económica e muito desemprego os contribuintes nos EUA e os cidadãos do mundo quiçá, através da inflação vão pagar os disparates da desregulação americana e os responsáveis por todo este desastre vão se pôr ao fresco, a começar pelo pai da desregulação na América, o conselheiro económico de Mccain, o sr. Gramm, antigo senador do Texas. Passou a ser mais discreto na candidatura republicana, mas é e continuará a ser um peso pesado na mesma, como a proto-fascista Palin, enfim., coisas….

Caro Jerónimo

Místico, eu? Que todas as potestades me livrem disso. Só o pensar que o MG, depois de se tornar místico se converteu ao neo-liberalismo na sua versão mais hard do capitalismo selvagem, fico nervoso a pensar nessa maleita. Será que é contagiosa, e eu ainda não me apercebi?

My God!

Vivo sempre nesta dúvida, desenhei mentalmente o próximo texto, quando hoje, por Lisboa, passeava e tinha uma conclusão: os FP dos humanos são mesmo uns FP. Todavia encontrei o meu advogado de lutas perdidas nos tribunais da demo-ditadura do pós 25 de Novembro, um grande homem - o Dr. Xencora Camotim. Foi um encontro de 4º grau com a generosidade, o sorriso da luta serena e depois vocês e claro, novamente penso que a maldade humana é acidental e que a grandeza do homem é ontológica, mas não sei e é terrível.
Abraço e bom fim-de-semana
asilva