sábado, 1 de novembro de 2008

05 - POEMÁRIO * Pressentir




No tempo, o tempo quer que se adivinhe
o tempo que virá e como vem.
Em tempo de esperança, quem detém
o tempo que se quer que em nós se aninhe?

Nas horas de emoção, o tempo arfando...
Projecta-se o futuro no presente!
E o sortilégio já não sabe quando
ou vive ou sonha o que pressente ou sente!

Ao sol do meio-dia, a tremulina
mal deixa divisar e só sugere
que nítido o ambíguo se defina...

Contornos proibidos de mulher
deslumbram deslumbrados na retina!
E um trémulo desejo queima e fere...


José-Augusto de Carvalho

3 comentários:

Ana Daya disse...

Muito bonito e impossivel de comentar como a grande maioria dos seus poemas que tenho lido neste blog.
No entanto, posso so dizer-lhe que tem razao em relacao ao tempo. Ate o tempo esta a ficar impaciente e quer sentir antecipadamente antes do tempo.

Um bom domingo!

Jerónimo Sardinha disse...

Caro Zé-Augusto,
O que vou eu dizer que possa dar uma pálida ideia do que se sente ao ler "COISAS" destas ?

Parece que recuperámos de um momento nostálgico, com redobrada energia.

Força. Venham mais. Nós agradecemos.

Abraço,
Jerónimo Sardinha

Marilia Gonçalves disse...

Com abraço de Poesia

Monto cavalos de prata





Monto cavalos de prata
Agarro crinas de vento
Minha égua desbravada
Salta barreiras de tempo
cascos a fender as nuvens
minha montada exultava
pássaro de fulgentes plumas
sobre seu dorso poisava.
Sobre a garupa de cinza
Meu corpo nu avançava
Como réplica da brisa
Ou nauta que mar levava.
Minha égua água marinha
Inebriante licor
Meu olhar nu te adivinha
Corolário aberto em flor.
Venci atalhos de frio
No teu valente arquejar
Meu cavalo corredio
Rio a procurar o mar.
O teu orgasmo de luz
Incendiou as estrelas
Numa explosão que seduz
Versos, pautas, aguarelas.
Contigo vôo e voando
Atinjo o êxtase enfim
Ó meu cavalo de prata
De asas abertas em mim.


Cavalgam pequenos potros
sem ânsia de bem ou mal
de tanto correr despertam
o instinto vegetal.
Uma poldra toda branca
na imensidão que é a noite
pariu aceso galope
entre águas, ervas, areias.
Era um vôo parecido
com um bibe de criança
erguido em nuvens azuis.


Na floresta adormecida
sobressaltaram-se breves
as folhas que pareciam
pequenas aves que leves
ao menor sopro do vento
mínimo silêncio triste
estremeciam no balanço
de braços mudos e verdes.


Mas em assomo surgido
lesto, inesperadamente
os potros foram partindo
filhos da luz e do vento.


Mari lia Gonçalves