segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Poetas Consagrados (1)


Camões e a tença

Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invoscaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.


Sophia de Mello Breyner Andresen

(1) o que fará os outros?!
o que será dos poetas não consagrados?
o que será dos Aleixos e aleixos de Portugal?

1 comentário:

Anónimo disse...

ANTÓNIO ALEIXO



(1899 - 1949)


A arte é força imanente,
Não se ensina, não se aprende,
Não se compra, não se vende,
Nasce e morre com a gente.





QUADRAS POPULARES




Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.


O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!


Quantas sedas aí vão,

quantos colarinhos,

são pedacinhos de pão

roubados aos pobrezinhos!


Quando não tenhas à mão

outro livro mais distinto,

lê estes versos que são

filhos da mágoa que sinto.


Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler,
P’ra aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter.


Nos versos que se improvisem,
Os poetas sabem ler,
Para além do que eles dizem,
Tudo o que querem dizer


A arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente


Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.