sábado, 17 de outubro de 2009

SÓCRATES ÍNCLITO FILHO LUSITANO:"VENI, VIDI, VICI"...




A entrevista do Sr. 1º Ministro à revista Visão é de uma excepcional importância. É de facto uma declaração de auto-glorificação e endeusamento. É um regresso ao passado próximo e longínquo, neste retoma-se a conceitualização faraónica, ou romana do ser superior e único que dirige o destino dos povos; quanto ao passado próximo é aquela ideia sibilina de que mesmo em democracia e num país pobre, inculto e anestesiado alguém pode ser todos e tudo, e o mais admirável é que esta postura comportamental, apesar de tão evidente, nem sequer é apercebida pelos militantes do PS.

Não se apercebem que muito claramente o Sr. Eng. Sócrates assume que a vitória nas legislativas são suas, por causa dos ataques pessoais, e dos pontapés que lhe deram, o que, como tenho dito, não deixa de ser verdade. Desta tacanhez das oposições, de facto, através da vitimação, do tipo do pobre de Cristo, tirou, o primeiro-ministro, o maior partido com êxito, como sempre acontece connosco, mesmo naqueles programas de TV tipo série B de má qualidade, em que as personagens humilhadas, como os Josés Marias são os vencedores anunciados. Esta atitude é-nos culturalmente genética.

Mas também o 1º Ministro tem uma ideia muito limitada do que seja uma negociação, esta implica cedência e compromisso entre todos os negociadores. Todos têm de respeitar dados limites, mas se alguém vai para uma negociação com todas as questões fechadas não está à espera de uma negociação, mas sim, de uma rendição, submissão, capitulação, e, obviamente, que o vencedor absoluto e pessoal que subalterniza o próprio partido, pode ser tentado a considerar que as oposições estão tão débeis e tão assustadas com os resultados das eleições autárquicas que têm de se ajoelhar. Segundo o 1º ministro as eleições autárquicas reforçam a posição do PS, ao qual agora poderá ir buscar forças, para querer governar, como se tivesse a maioria absoluta, ou, caso contrário, forçar a dissolução do parlamento, para a conseguir.

Obviamente que seria um novo disparate das oposições alimentarem este jogo. Da minha parte, como disse, já há muito tempo, se o governo de Sócrates gerisse razoavelmente a situação de crise, protegendo de algum modo as famílias e as empresas, com os dinheiros que acumulou com a redução das despesas de saúde, congelamento dos salários dos funcionários públicos, diminuição do valor das pensões de reformas, e os desempregados recebessem subsídios, venceria as eleições, e foi, exactamente, o que aconteceu.

Só que neste cenário previa e prevejo, agora, até, com base em avaliações de agências internacionais que a factura da vitória pode começar a aparecer pelos idos de 2011, quando tiver de haver rigor orçamental e necessidade de pôr o país a funcionar, a crescer em competitividade, desenvolvimento, justiça social, emprego de qualidade e tiver de controlar a défice da balança de pagamentos, então, veremos se as medidas deste governo são Keynesianas, por quem o 1º Ministro revela apreço, ou neo-liberais, de que se diz afastar. (Verdade, mentira?)

A entrevista está também cheia de partes gagas, em boa verdade, não se percebe, porque deve haver tanto segredo nas negociações entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, ora, se diz que no Conselho de Ministros há uma verdadeira coesão que não é quebrada pelos comunicados do conselho de ministros que riscos há para a cooperação estratégica, se houvesse comunicados da Presidência acerca daquelas reuniões.

Também é estranho, muito estranho, que o Sr. Primeiro Ministro insista que perdeu a maioria absoluta por causa das reformas, ora isto não é verdade. Fizeram-se empreendimentos importantes, mas não se fez a reforma da saúde, o Serviço Nacional de Saúde perdeu qualidade em relação ao privado, os que dele muito falam, nunca entraram, como um cidadão normal, nas urgências, e nunca foram internados nos corredores do Santa Maria, ou na sala da morte dos cuidados intermédios do Curry Cabral, para falar de dois exemplos desgraçados que conheço e vivi ; não se fez a reforma da função publica, puniram-se os funcionários, congelaram-se os salários, fez-se a empresa na hora, mas depois na fiscalidade e em todo o mais é um calvário; na educação tomaram-se medidas importantes, mas não se consegue nem avaliar professores, nem a competência dos alunos e no ensino universitário a completa desregulação é bem pior, os professores universitários e as universidades fazem o que lhes apetece, muitas vezes, sem a menor preocupação pela excelência; nos transportes, na cultura, na comunicação social pública, nas entidades reguladoras, no exercício da cidadania, na justiça que está em estado cataléptico, no combate à corrupção, nada de significativo foi feito, e é, por isto, que o PS perde a maioria absoluta, e não a perdeu com maior significado, porque Manuel Alegre, em 19 Setembro, em Coimbra, e já mesmo antes, consegue suster a debandada para o BE - em relação a este também, houve uma travagem, por causa do seu mau programa e má campanha eleitoral - e para o engrossamento da abstenção.

A verdade é que o governo perde a maioria absoluta, por causa das más politicas que fez, procurando economizar não com a adequada melhoria dos processos de gestão, de combate aos desperdícios, com o aumento da produtividade do trabalho e com motivação dos funcionários públicos, mas sempre com recurso à penalização e afrontamento dos profissionais, e piorando a prestação da qualidade dos serviços essenciais que o Estado deve prestar à população.

Porque o Sr. Primeiro-ministro não quer fazer esta inútil análise, segundo a opinião que expressa na entrevista, o autismo pode continuar, e, então, ou próximo governo resolve sozinho os graves problemas do país, e, aí, merece continuar a ser governo até com uma maioria reforçada, ou não os resolve, e deve ir embora, para que Portugal se salve.

Mas a real radiografia do Estado da Nação, nesta nova etapa, antes dos meados de 2011 não estará feita, razão porque se não houver nenhum cataclismo, qualquer iniciativa das oposições para alterar o quadro que resultou deste ciclo eleitoral será muito gravoso para elas próprias, e um verdadeiro favor a este homem que se declara como vencedor pessoal, o que face às más campanhas das oposições e de outros pensadores incidentais tem muito de verdade.

Finalmente o Sr. Primeiro-ministro fala da necessidade da regulação, mas se continuar a defender as entidades reguladoras que temos e os seus métodos de actuação limita-se a referir um lugar comum.

Mas, sobretudo e, paradoxalmente, parece muito estranho que, quando toda a gente acha que a bolsa está outra vez a entrar num ciclo especulativo, sem base na economia real, o Sr. Primeiro-ministro ache isso muito bem.

Mas, então, a crise que se vive não teve como epicentro uma dada engenharia e truques financeiros que descolando da economia real levaram-nos para a actual situação? Não estarão as bolsas, outra vez, a vender gatos por lebres?

Muito estranhas, mesmo, são algumas declarações do Sr. Primeiro Ministro, como as de que o julgaram estar caído e lhe deram pontapés, julgavam que morreria, mas soergueu-se e venceu a morte, não tem ressentimentos, mas regista para memória futura estes acontecimentos com alguma crispação, o que é uma estranha forma de se dizer que não há ressentimentos. De qualquer modo já conhecíamos a história dos murros na incubadora que mataram Santana, mas não a dos pontapés, estes dão mais élan ao lutador, e ele levanta-se e vence, talvez com uma ou outra muleta, que pode ser o glorioso fado de um qualquer partido, desde que isso assegure lugares para muita gente.

Em 2011 há encontros marcados com a história e, aí, o vencedor isolado de hoje, ou se torna o herói sebastianista com todos os riscos associados, ou um verdadeiro líder emergente, conduzindo as politicas correctas, e, então, deve ver a sua liderança reforçada, mas se esta 2º hipótese não acontecer para evitar a tragédia devemos mudar de rumo com novos projectos, novos lideres.

2011 é uma meta importante, porque estará em exercício um novo Presidente da República que pode ser o mesmo, e se for terá uma autoridade renovada, depois de todo o eclipse porque passa, ou, então, um outro com uma votação massiva, e se esta se dever às propostas que faz para desenvolver o país e dignificar a democracia, Portugal poderá chegar ao Futuro, e ainda o PSD deverá ter recuperado da sua actual gripe A, e à esquerda poderá aparecer um partido da esquerda socialista, que também seria menos premente, se o PS não esquecer o socialismo. Todavia parece que vai esquecê-lo de novo a avaliar pelas as afirmações tempestuosas do Sr. Lelo, geralmente identificado, como o porta-voz para as ofensas do Sr. Eng. Sócrates, o equivalente ao Sr. Jaime Ramos do PSD Madeira, para o Sr. João Jardim.

Todavia este ínclito filho lusitano tem toda a razão, quanto à Liberdade de Expressão que nunca poderá servir para difamar com dolo , e quem o fizer comete um crime contra a liberdade de imprensa que deve ser severamente punido, mas terá de haver sempre dolo, e fora destes casos ficam as notícias, quando há intenção de informar e desde que a noticia tenha algum grau de verosimilhança.

Quanto ao Sr. Primeiro-ministro há muitos casos que só uma justiça, célere, independente e eficaz poderia esclarecer, mas como em relação à justiça portuguesa aqueles pressupostos são um mera virtualidade, não há modo de sair do pântano, e tudo passa a ser uma questão de crença quanto à inocência ou ao comportamento culposo do Sr. Eng. Sócrates, e para os mais racionais e probos persiste uma grande dúvida sobre qual seja a verdade, o que, naturalmente passa ao lado da maioria dos concidadãos de Portugal.


PORTUGAL TEM DE CONSEGUIR.

asilva

2 comentários:

Marília Gonçalves disse...

pois é!
a Sophia Andresen tinha razão, mais que razão:

! este país nos mata lentamente, como povo!!!

Marília

andrade da silva disse...

MAS MORRER ESTE POVO, OU SE TONAR DE NOVO ESCRAVO, COMO HUMBERTO DELGADO DENUNCIAVA, não pode ser a Sina dos Portugueses, conquanto o pareça, de que o cerco e o silêncio que rodeia este blogue seja disso um sintoma, apesar de aqui se ter previsto muito do que depois aconteceu.

Tem sido assim, ainda é assim, e parece que será assim, mas é preciso teimar e ousar.
abraço
asilva