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Que voz o silêncio em eco levanta Tremenda feroz gelada sombria Que nos fecha a mão nos cala a garganta E torna a manha gélida, mais fria Que vozes de túmulo Há tanto caladas Levantam ao cúmulo O pavor dos dias E tornam opacas As brandas paisagens E tornam as noites tredas E vazias Quem anda por dentro Dos sonhos que temos Semeando algemas Que são dessa cor Em que se amalgamam Os prantos as penas Nesse sofrimento cada vez maior Em nome de quem Que monstro severo Traz em seu sudário De horrendo luzir As asas cortadas Do loiro canário Que livre pelos ares Ouvíamos rir Quem é que nos chega do mundo dos mortos com baba de réptil colando-se em nós e faz sementeira no solo que fértil construímos limpo sem peias nem pós
na ronda dos dias o povo cantava cantando bailava bailando não via que o monstro rasteiro pelos ares espalhava essa pestilência de que ele vivia
enquanto a manhã não amadurar a luz que se infiltra nos olhos ao fundo o monstro escondido ainda tentará cobrir de seu bafo o tempo perdido e calar o Mundo.
No ritual do riso Despe-se o olhar de sombra Acumulado e triste. Paraíso? Não existe! Apenas este esforço esta vontade De transformar o mundo O mundo que nós somos Tão profundo Que o passo conseguido é do passado e é vencido. Mas esta teimosia irreverente Esta consciência aguda de ser gente Vai-nos soltar a voz até ao grito! Ah! Glória a todos nós por tanto gesto aflito Por este tropeçar e prosseguir Por este querer andar mesmo a cair E levantar o mundo de amanhã. Glória a todos nós à Humanidade Que leva ao peito a ferida d'ansiedade E grita ainda que a espera não é vã. Glória a ti pois. A ti ó Homem que te elevas Monstro parindo as suas próprias trevas E nelas chora e ri.
2 comentários:
O Monstro
Que voz o silêncio em eco levanta
Tremenda feroz gelada sombria
Que nos fecha a mão
nos cala a garganta
E torna a manha gélida,
mais fria
Que vozes de túmulo
Há tanto caladas
Levantam ao cúmulo
O pavor dos dias
E tornam opacas
As brandas paisagens
E tornam as noites tredas
E vazias
Quem anda por dentro
Dos sonhos que temos
Semeando algemas
Que são dessa cor
Em que se amalgamam
Os prantos as penas
Nesse sofrimento
cada vez maior
Em nome de quem
Que monstro severo
Traz em seu sudário
De horrendo luzir
As asas cortadas
Do loiro canário
Que livre pelos ares
Ouvíamos rir
Quem é que nos chega
do mundo dos mortos
com baba de réptil
colando-se em nós
e faz sementeira
no solo que fértil
construímos limpo
sem peias nem pós
na ronda dos dias o povo
cantava
cantando bailava
bailando não via
que o monstro rasteiro
pelos ares espalhava
essa pestilência
de que ele vivia
enquanto a manhã
não amadurar
a luz que se infiltra
nos olhos ao fundo
o monstro escondido
ainda tentará
cobrir de seu bafo
o tempo perdido
e calar o Mundo.
Marília Gonçalves
À Humanidade
No ritual do riso
Despe-se o olhar de sombra
Acumulado e triste.
Paraíso? Não existe!
Apenas este esforço esta vontade
De transformar o mundo
O mundo que nós somos
Tão profundo
Que o passo conseguido
é do passado e é vencido.
Mas esta teimosia irreverente
Esta consciência aguda de ser gente
Vai-nos soltar a voz
até ao grito!
Ah! Glória a todos nós por tanto gesto aflito
Por este tropeçar e prosseguir
Por este querer andar mesmo a cair
E levantar o mundo de amanhã.
Glória a todos nós
à Humanidade
Que leva ao peito a ferida d'ansiedade
E grita ainda que a espera não é vã.
Glória a ti pois. A ti
ó Homem que te elevas
Monstro parindo as suas próprias trevas
E nelas chora e ri.
Marília Gonçalves
do livro "À Procura do Traço"
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