quarta-feira, 7 de julho de 2010

Companheiros de Luta, Portugal






Companheiro incansável Andrade da Silva,Companheiros de Luta e dor e desespero pela Pátria traída, Portugal atraiçoado, o 25 de Abril
de rubros Cravos de Esperança perdendo-se por meandros de cobardia e obscurantismo, Amigos, Leitores


se neste longo título passa um pouco do que me vai no intimo
eu Marília Gonçalves, venho pedir contas aos que confortavelmente se calam,contas pelas vidas dos meus, que heróicos se bateram por Portugal, meu pai, um poço de bondade e humanismo, de saúde tão frágil, que depois de passar pelas mãos da nojenta PIDE, nunca mais voltou a ter um dia de saúde, com vómitos de sangue, diante do olhar aterrado de meu irmão pequenino, que a cada dia pensava perder o pai
pelo meu tio Alfredo Dinis "ALEX", cobarde e traiçoeiramente assassinado, revolucionário sim, dirigente Comunista, um homem de tanta ternura que nunca passava pela mulher, minha tia "Zefa" sem a beijar, que adorava o filho pequenino, doente, que morreu seis meses antes do pai! Pelo velho Vasconcelos o enfermeiro dos pobres da Penha de França 25 vezes preso, uma das quais no Tarrafal "o conde vermelho" que por sorte ainda viu Abril e seus cravos entre os quais se erguiam em flores de sangue as imagens de Adelaide e de Idalina , suas filhas mortas tuberculosas, na flor da idade, em consequência das prisões do pai e da fome que as seguia! o velho Vasconcelos quase cego esteve presente no primeiro 1° de Maio e andou mesmo ao colo de Marinheiros, ao que uma revista francesa deu larga cobertura!
e venho pedir contas pela minha falta de saúde que de menina de doze anos comecei a trabalhar, vendendo bolos e batatas fritas que minha mãe e minha avô materna faziam noite fora, para aos catorze anos decidida e digna desembocar em França, vivendo o trabalho e o cansaço como se de uma mulher formada se tratasse, venho pedir contas por minha infância que me foi arrancada, pelos meus estudos interrompidos, numa longa caminhada para Abril dos que destacando-se dentre a carneirada amaram e lutaram por Portugal, tudo dando de si! venho pedir contas pelos amigos presos, torturados, assassinados, vidas destruídas que tanta falta ficaram a fazer ao progresso de Portugal e à transformação das mentalidades, cuja paralisia transforma o nosso povo no "corno manso" esvaziado de toda a força viril e generosa que podia REERGUER PORTUGAL!
e venho pedir contas por todos os filhos de presos políticos quer tenham visto, tal como eu o pai, ou a mãe, enjaulados por trás dum corredor de vidro com um carcereiro enfiando volta e meia o focinho nojento a relembrar a PIDE omnipresente! venho pedir contas, pelos filhos dos clandestinos que durante tempos infindos não podiam ver seus pais, num sofrimento atroz para uns e para outros!
e tudo isto para quê?
para que após essa magnífica e única madrugada da Abril e de todas as Conquistas que se lhe seguiram de direitos para quem anteriormente nunca os havia tido, se percam, se esfumem?
PARA QUE MAIS UMA VEZ O POVO DE PORTUGAL, depois de conhecer a Luz da Liberdade, se deixe acorrentar numa anestesia do sentir e do pensar que o hão-de levar à perdição e à de seus filhos!

e pelo silêncio dos que se calam,pela ignomínia dos que se vendem, vendendo Portugal em leilão,destruindo o bom que havia no país, eu, não a mulher de sessenta e dois anos, mas eu a menina que pagou no roubo de sua infância a Dignidade de Portugal e a de todos os que o salazariamo/caetanismo oprimiam, humilhavam, assassinavam além-mares, é pois a menina que se ergue de dedo acusador, contra os criminosos fascistas/nazis e contra todos os que silenciando consentiram
Glória para sempre aos que venceram o medo e foram dignos representantes daquilo que são: SERES HUMANOS!
e hoje acima de tudo acuso todos aqueles que pela sua cobardia e silêncio estão a assassinar a Esperança, mola real do progresso e da felicidade dos povos! fazendo-nos retroceder e cair no horror do passado

Marília

ACUSO

Cavalo de vento
Meu dia perdido
O meu pensamento
Anda a soluçar
Por dentro do tempo
De cada gemido
Com olhos esquecidos
Do riso a cantar

Quem foi que levou
A ânfora antiga
Onde minha sede
Fui desalterar
Sementeira de astros
Que o olhar abriga
Por fora dos versos
Que hei-de procurar

Quem foi que em murmúrio
Na fonte gelava
Essa folha branca
Aonde pensar
Quem foi que a perdeu
Levando o futuro
Por onde o meu barco
não quer navegar

Quem foi que manchou
a página clara
Com água das sedes
Que eu hei-de contar
Quando o sol doirava
As velhas paredes
Da mansão perdida
De risos sem par

Quem foi que levou
Os astros azuis
Do meu tempo lindo
Meu tempo a vogar
Por mares de estrelas
Vermelhas abrindo
Quando minhas mãos
Querem soluçar

Não mais sei quem foi
só sei que foi quando
a noite vestiu o dia que era
E todos os sonhos
Partiram em bando
Fugindo de mim e da primavera

Mas há na memória
Da minha retina
A voz que se nega
A silenciar
Com dedo infantil
Erguendo a menina
Diante do réu
Em tempo e lugar!!!

Marília Gonçalves

e o meu abraço fraterno e universal a quantos se batem pelo ser humano, pelo futuro, e até pelo amanhã dos filhos e descendentes de quantos atraiçoam Portugal
o meu amor por vós amigos e a minha infinita ternura


Marília Gonçalves

8 comentários:

Fernando Barbosa Ribeiro disse...

Partilhamos da mesma dor... Portugal ressuscitado está em coma profundo. Tal como a amiga Marília disse (acho que posso chamá-la de amiga, visto sermos dois dos destroçados que partilham uma visão idêntica arruinada pelos traidores, a citar os de Novembro de 1975 - no mínimo, idêntica quanto a anti-fascismo e defesa de "Abril Sempre!"), há aqueles que vendem o país como se de um leilão se tratasse (ou quiçá não o venderão na própria Feira da Ladra!), e regressamos aos tempos da escuridão em que muitos andavam perdidos. Revi-me em tudo (apesar da tenríssima idade que tenho - 19 anos), partilho da mesma dor pelo adormecer dos portugueses já há alguns anos (para ser rigoroso, há 7 anos), e por verificar tão tristemente a nova vitória dos "vampiros" como Zeca Afonso lhes chamava e muitíssimo bem.
E são os poucos que não se rendem, os poucos que aproveitam a dor e o coração destroçado para fortalecer a sua Luta por um futuro melhor, que poderão marcar a diferença em Portugal.
Unidos venceremos!

Um enorme e fraterno abraço.

Marília Gonçalves disse...

Amigo e sinceramente com estima o digo

a sua jovem idade reabre-me portas de Esperança
que a sua voz seja ouvida por jovens de coração generoso, apanágio da Juventude e se possível que por Amor de vós, vossos pais vos sigam
o meu abraço de Abril e vamos em frente

Marília Gonçalves

Anónimo disse...

Excelente, Marília!
José-Augusto

andrade da silva disse...

Marilia

Abril, Abril, a LIBERDADE SOBREVIVEM. SOBREVIVERÂO. TODA a luta foi necessária,é necessária e urgente.

Os tempos são muito difíceis, perigosos, mas NÂO VOLTAREMOS PARA TRÁS - Abril, o povo de Abril, os socialistas de esquerda, as pessoas humildes, quando tomarem consciência do que se passa levantar-se-ão na defesa da Republica, e da Liberdade, e os comunistas como sempre lá estão e estarão. É um facto histórico.

Marilia

Fazemos o que podemos, e já trouxemos até nós um jovem valente e garboso, o Fernando,logo vale a pena continuar, valeu a pena os que seus e nossos heróis passaram. LUTAREMOS.

abraço
asilva

Isaura disse...

Marília
Foi com muita emoção que li o seu texto. Sou filha de comunistas que sofreram nas prisões às mãos dos carrascos da PIDE as maiores barbaridades.Além deles e de muitos amigos e camaradas que me eram muito queridos, vi cair nas mãos da Pide o meu irmão, sua mulher e um filho com apenas 2 anos de idade. Os horrores por que todos eles passaram durante os muitos anos de prisão, são indiscritíveis.
Passei a minha infância e juventude na clandestinidade, com meus pais e depois, já como adulta, separada deles... Tudo isto para dizer como senti fundo as suas palavras.Tudo isto para dizer como me sinto revoltada com tudo quanto se tem passado contra Abril, contra pessoas que deram tudo de toda a sua vida, pela libertação de Portugal da ditadura fascista (agora ouvimos alguns que quando falam até parece que nunca existiu fascismo em Portugal). Abril não pode voltar atrás. Abril não pode ser só passado, temos de fazer dele futuro, temos de semear a esperança e os ideais da liberdade nos mais jovens para que nunca mais Portugal regresse aos dias negras de antes de Abril.
Um grande abraço

andrade da silva disse...

Isaura
Todas as mulheres e homens livres sabem que houve fascismo em Portugal, um regime ilegítimo, criminoso, policial, ignorante, inumano, anti-economico, colonialista, atrasado, contra Portugal, os Portugueses e os Africanos, .Quem nega a existência deste regime é CULPADO por todos os crimes fascistas e salvou-se ao julgamento que os cobardes e traidores de Abril sabotaram e impediram, e toda a gente sabe quem foram.
Se houver actas das assembleias do MFA é fácil saber os militares que sabotaram e os que queriam o julgamento dos fascistas, que nada tem haver com basófias de os meter no campo pequeno ,ou no c. q. os f., ponto.
Há uns doutorecos e professorecos que julgam que só eles estudaram estas coisas, todavia segundo historiadores de renome internacional, mesmo democratas-cristãos definiram a tipologia do sistema de governação fascista: partido único, corporações, policias politicas, grande preponderância da propaganda e do embutimento do conhecimento, culto da personalidade, mobilização permanente etc em que a governança fascista de salazar ( beato e pobretana miserável que nos deixou escravos da ignorância) se enquadra perfeitamente.
Esses tais doutorecos CULPADOS conhecem esta bibliografia e exploram bem o facto destes doutos caracterizarem esta governança ao nível Europeu, por ser tão retrógrada, desumana, como existente entre as duas guerras, o que é meramente arbitrário, e sobretudo o disseram, porque como autores internacionais não se deram à maçada de estudar o regime de salazar, miserável regime que acorrentou 10 milhões de portugueses europeus, e outros tantos de africanos, o que, para os grandes historiadores conta pouco, pois para eles a história do povos é determinada pelos grandes centros de decisão sedeados em Paris, Bona, EUA.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Isaura Amiga
foram trágicos tempos, esses 48 anos de salazarismo, tempo em que a coragem se destacava dentre tantos e tantos que por motivos vários silenciavam e vergavam a cabeça, vencidos
Se todo o povo ou a maior parte dele se tivesse posto de pé num não altissonante, depressa o fascismo teria caído, não há prisões onde caiba um povo inteiro, a não ser, essa de muros de silêncio a que viveram acorrentados os filhos de Portugal.
Assim foram os que se insurgiam, contra a paralisia do pensar, contra o crime que calava jornais e parava a Cultura,que sacrificava os que trabalhando,viviam fome e todo o tipo de faltas, foram os resistentes que pagaram a sua generosidade e coragem, com o seu sangue e quantas vezes com o sangue dos seus.
Foi muito importante que tenha vindo testemunhar, porque as verdades que contou são terríveis e Portugal precisa saber o alto preço que pagaram, os filhos que o amaram tão profundamente, que tudo deram de si para arrancar Portugal da asfixia.
as por isso mesmo, porque esse sofrimento dos Resistentes e famílias era tão intenso é que cada dia nossa voz deve erguer-se,
com brio e orgulho pelos que contra ventos e marés puseram seu pensar, seu sentir e todo o seu esforço no combate à injustiça e ao crime organizado por um governo de bandidos que soube formar a PIDE essa força que se infiltrava em todos os recantos e que foi com os seus malditos bufos o terror de Portugal!
Isaura, amiga que só agora conheci,
receba o meu fraterno abraço, já que por desgraça nossa, bem sabemos do que estamos a falar.
Continue a participar sempre, porque a voz dos que sofreram pode ter o poder de evitar idênticos males futuros
Até sempre
Marília

Marília Gonçalves disse...
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