terça-feira, 10 de julho de 2012

CURRÍCULO ESCOLAR E UNIVERSITÁRIO DE UM PLEBEU (FILHO DO POVO/FORMIGA): UM EXERCÍCIO, SANGRANDO.







O país está  a arder, o melhor, seria mesmo,  chamar os bombeiros nacionais e internacionais  para nos salvarem.

Todavia,  recordo-me, quando corria o ano de 1972, nas  matas da Damba/Angola, e me dirigia para uma dada operação militar, eis que,  de repente, vejo uma vara de supostos porcos, a correrem em direcção às viaturas.

Era maçarico naquelas bandas, e, logo, pensei, esquematicamente: porcos, chiqueiros,  acampamento/ aldeia não identificada -  cuidado militares! Mas logo me diz um mais conhecedor- Meu alferes são javalis selvagens! Não há acampamento nenhum. Ainda retorqui  que os porcos pareciam-me  diferentes mas…

Ora hoje, em Portugal,  vejo por aí muitas varas, e já não sei se são porcos diferentes ou iguais aos dos chiqueiros imundos. Contudo se na guerra senti necessidade de dizer -  gente cuidado com estes porcos! Hoje, sinto necessidade de dizer que há gente que andou em escolas e universidade e na vida e não é porco,  e é disto que hoje vou falar.

O meu pai dizia-me: “ isto é assim - uns, os trabalhadores, têm a função de fazerem dados trabalhos, os estudantes têm o dever,  a obrigação, de estudarem. Tu és estudante - tens de estudar, se não estudares vais trabalhar, para o emprego que estiver disponível”.

Sempre pensei assim, e, assim, ensinei ao meu filho,  com base na história de um  meu grande amigo que conheço, desde que me olhei, e que, passo a contar:

O meu grande amigo estudou até ao 7º ano no liceu de Jaime Moniz,  no Funchal.  Foi aluno do quadro de honra, tirou 19 valores a filosofia e 10 a matemática, com o Dr. Camachinho, o professor mais temido por gerações sucessivas de madeirenses que, o dito, reprovava quer nos exames de admissão ao liceu, quer no fim daquele. Todos o chamavam com  nomes horríveis, e, ainda, por cima era um gozão. Seja como for o meu amigo, pese embora, o 10 a mafamética, terminou o liceu com  média de 14 valores.

Em 1967 ingressa na Academia Militar, com dispensa da prova cultural de admissão, seria também dispensado dos exames de admissão à universidade, se tivesse concorrido a medicina, sua opção alternativa.

O meu amigo tira o curso de artilharia na Academia Militar, entre 67 e 71,  foi o número um do curso, durante alguns anos, no tirocínio passa para nº 2, chefiou, entretanto,  uma greve pelo meio.  Termina com a nota de 13,99 valores, o número um terminou com 14. A centésima de diferença parece que teve a ver com um teste de amamento de infantaria, do que o meu amigo, sendo artilheiro, não gostava nada  mesmo daquelas “armazinhas”. As nobres eram só os obuses, as peças e melhor o misseis que não havia, falavam, então,  de missas.

O meu amigo vai depois para África, onde, comanda pelotões, companhias e é adjunto na sala de operações de um batalhão e de um comandante de Bateria.

Nos anos de 1978/79 inicia o curso de Sociologia no ISCTE, no horário nocturno, tem aulas todos os dias das 19, 30 às 23, 30 que frequenta religiosamente durante 5 anos. Nada conta a experiência profissional, faz exames e provas de avaliação contínua, nestas pede a colaboração à sua amiga que vai vir a ser a mãe do seu filho, para manuscrever os seus trabalhos, por causa da letra. Um trabalho imenso para ela que vai ter de fazer o curso, sem nunca receber, ou sequer sonhar com futuros créditos académicos.

Este meu amigo entra em divergências no curso com Professor Villaverde Cabral, por causa do modo muito saltitante como dava as aulas; por afirmar que a sociologia era pura erudição (o meu amigo pensava que a sociologia era uma ciência), e, ainda, por causa da campanha do trigo, que o Prof. achava uma acção de grande alcance,  e o meu amigo, aluno, que não, que tinha sido mais uma manobra de propaganda.

Também teve divergências com a professora assistente da  Doutora Filomena Mónica, uma linda mulher- professora, mas com défices graves em metódos de instrução,  lia as tais fichas de leitura dactilografadas ou manuscritas, mas aqui, como o meu amigo ficava encantado com a sua beleza, a razão da divergência não foi o método de exposição da matéria, mas sim,  a assistente ter eleito como bíblia da disciplina, as teorias de   Raimond Aron, o que, o meu amigo, capitão de Abril ,não podia aceitar –Bíblias - nunca mais!

Uma outra grave divergência teve com o professor de sociologia do desenvolvimento, quando, em trabalho apresentado na aula, disse que todos os métodos de ensino estavam errados, porque nenhum deles se destinava ao homem real, mas sim ao seu duplo.

 O Homem real era o Freudiano, o que, anda por aí, é o seu duplo.  Finalmente o cinema consagra esta versão, no filme : Os duplos. Todavia no princípio da década de 80 caiu o Carmo e a Trindade naquela sala de aulas, algumas colegas ainda se lembram, e o meu amigo passou de um dos melhores alunos na disciplina a verdadeiro diabo. O evocado trabalho não podia ser aceite, estava fora do âmbito da cadeira, fazia tábua rasa de contributos como dos de Marx, Samir Amin etc. Um sacrilégio!

Todavia, o meu amigo terminou este curso com 15 valores, e deram-lhe a equivalência da cadeira de matemáticas gerais da AM, à matemática do curso de sociologia. Foi a custo, mas foi muito bom. Aquela matemática não era mesmo precisa para a sociologia, e se o meu amigo tivesse sido obrigado a tirá-la, naturalmente, o curso de sociologia não faria parte do seu currículo. Mas a sociologia teria sido, por certo, uma sua preocupação.

Em 1984/1985 faz no Instituto  de Altos Estudos Militares (IAEM) o curso de promoção a Major, tem a ousadia de fazer na cadeira de estratégia, com o grande professor, então,  Major de Infantaria Sobral, um trabalho sobre pacifismo, com base no pensamento de Ghandi, espera uma nota de  (-) zero, mas será o próprio professor, que adivinhando as suas preocupações, antes da comunicação oficial das notas, lhe diz num corredor das salas de aulas,  que teve um A.

Termina o curso com a nota de BOM, e ouve palavras de muito apreço do General Belchior Vieira.

Entre 1988-93 tira o curso de psicologia na faculdade de psicologia, frequenta o curso diurno com as suas colegas de 18/19 anos, fez perto de 50 exames, deram-lhe equivalência às cadeiras de estatística um e dois, com base no currículo da Academia Militar, e recusaram-lhe a equivalência na cadeira  de  psicologia social que tinha feito no curso de sociologia, este facto, vai-lhe provocar agruras, e vai espoletar um comportamento agressivo  do professor da disciplina de cognição social.

A história é simples:  pela cadeira de psicologia social os estereótipos eram um produto social, sobretudo os racistas, pela cognição social não. Tudo tinha a ver com os comportamentos de uma população minoritária  se tornarem  num estimulo saliente, donde, mais facilmente fosse possível processar a informação negativa que tendia a confirmar-se rapidamente, com poucos factos convergentes, e nascia  o preconceito, por exemplo: se alguém daquela população rouba  hoje, amanhã e  depois de amanhã,  o preconceito instala-se , e depois exige dezenas/ centenas  de outros factos contrários para  se eliminar ou desactivar  o estereótipo. Facto que poderia acontecer, através da aplicação da hipótese de contacto, ou seja, quanto mais for a densidade e a quantidade de contactos entre populações mais estes vieses do processamento da informação tendem a desaparecer.

O meu amigo achava que não seria bem assim,  e o grande professor da cadeira de cognição social lá lhe disse que em todas as turmas tinha de haver um aluno do tipo do meu amigo – idiossincrático, livre, com opinião – um bárbaro, para aquelas universidades.

O meu amigo ainda teve divergências com outros professores. Ficou chocado com o modo como os seus colegas e ele recolheram dados para três teses de doutoramento sobre: o divórcio;  alfabetos artificiais, e imagens em espelho. Se fossem para pontes, estas não teriam resistido ao 1º inverno, na psicologia deram os títulos de doutoras  às doutorandas. Uma não merecia tal  atitude da nossa parte, era tecnicamente muito competente, mas afectivamente era uma pedra. (Como pode uma pedra ser psicóloga? Nunca, mas pode ser catedrática de psicologia, coisas…)

O meu amigo acabará  por sofrer uma desilusão com um grande professor, porque como arguente, numa tese de doutoramento sobre depressão-pós-parto de uma catedrática actual, argui erros metodológicos graves, médios e ligeiros.

Os graves  eram  mesmo graves, as justificações da doutoranda pouco aceitáveis,  mas no fim passa com distinção e unanimidade. Facto que espanta o meu amigo que mais tarde há-de interpelar o professor sobre o sentido do seu voto, ao que respondeu que- “tínhamos de ser magnânimos!”

O meu amigo não entendeu o significado da expressão, porque nunca viu aquele professor ser de um nodo universal magnânimo perante os erros dos discentes, coisas, enquanto foi para aquela doutoranda que  já era professora na Faculdade. Era muito simpática, mulher de outro professor  doutor, mas que em dada altura desconhecia que as fobias são controladas por umas outras amígdalas que temos lá para as bandas do cérebro…

Em 1993 o meu amigo termina o curso com 15 valores, muitas chatices, e depois vai fazer,  desde aquela data, investigações e trabalhar numa experiência multivariada no Exército com investigação, psicologia clinica,  selecção, gestão recursos humanos, etc. etc., também por mais do que uma vez o motivaram para tentar o doutoramento, o que, sempre recusou, porque achava que os professores doutores deveriam ser génios, ( pensava que deviam ser, mas sabe que não são); depois 3 licenciaturas esgotaram-no,  e, ainda,  porque entendeu que de acordo com os sues critérios éticos, se é certo que nas universidades se aprende o saber na sua melhor expressão e luminosidade, também  se desaprende tanto ao nível da virtude ,que seria melhor não se meter num meio fechado, autoritário, não regulado, desde logo, porque os professores doutores fazem o que querem, e fazem isso até  aos 70 anos, e muitos, que o meu amigo conheceu, eram incompetentes, e, por vezes, passaram alunos, e deram notas que ninguém entendia, até mesmo a alunos  (as) que não cumpriam as suas obrigações dos  estágios curriculares nas empresas onde eram colocadas.

Todavia, e apesar destas e de outras  irregularidades já muito censuráveis nas licenciaturas de 5 anos  antes de Bolonha,  nomeadamente, o copianço e os comportamentos  estranhos identificados  com o compadrio, o que, hoje,  se passa é de um verdadeiro escândalo que perante o esforço que aqui se narra antes de Bolonha, para se obter o mesmo resultado que um qualquer (?), ou especifico  cidadão ( acredito mais nesta hipótese, a do especifico,  por interesses políticos, e, ou de outra ordem) pode obter, como brinde da Optimus  ou de Casino ( noutros tempos da farinha amparo)  ou compra de artefacto na loja dos 300 , é um escândalo a nível Académico e cientifico, e se houve favorecimento em alguma dessas licenciaturas estamos perante uma grave DEGRADAÇÂO MORAL DA PERSONLIDADE E DA PERSONAGEM PÚBLICA DE QUEM FOI FAVORECIDO que o impede de exercer  qualquer função pública , e de usar o respectivo titulo, que se foi irregularmente obtido, deve ser retirado, seja a personagem : politica, sindicalista, rica, ou plebeia.

Quem trabalha no duro não pode aceitar que a cidade seja conspurcada, e mesmo nus, com as carnes a sangrarem, os membros decepados, e sobre os cotos, apoiando-se, temos de impedir a invasão da cidade por varas de porcos ou de javalis.

andrade da silva

2 comentários:

Marília Gonçalves disse...

A maior parte das vezes a recompensa do esforço, é a consciência que temos de ir sempre um pouco mais longe, em nós!
E você meu Capitão, essa consciência nunca lhe faltará
abraço amigo

Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

abraço
a silva