O país está a arder, o melhor, seria mesmo, chamar os bombeiros nacionais e internacionais
para nos salvarem.
Todavia, recordo-me, quando corria o ano de 1972,
nas matas da Damba/Angola, e me dirigia
para uma dada operação militar, eis que, de repente, vejo uma vara de supostos porcos, a
correrem em direcção às viaturas.
Era maçarico naquelas
bandas, e, logo, pensei, esquematicamente: porcos, chiqueiros, acampamento/ aldeia não identificada - cuidado militares! Mas logo me diz um mais
conhecedor- Meu alferes são javalis selvagens! Não há acampamento nenhum. Ainda
retorqui que os porcos pareciam-me diferentes mas…
Ora hoje, em Portugal, vejo por aí muitas varas, e já não sei se são
porcos diferentes ou iguais aos dos chiqueiros imundos. Contudo se na guerra
senti necessidade de dizer - gente cuidado
com estes porcos! Hoje, sinto necessidade de dizer que há gente que andou em
escolas e universidade e na vida e não é porco,
e é disto que hoje vou falar.
O meu pai dizia-me: “ isto
é assim - uns, os trabalhadores, têm a função de fazerem dados trabalhos, os
estudantes têm o dever, a obrigação, de
estudarem. Tu és estudante - tens de estudar, se não estudares vais trabalhar,
para o emprego que estiver disponível”.
Sempre pensei assim, e,
assim, ensinei ao meu filho, com base na
história de um meu grande amigo que
conheço, desde que me olhei, e que, passo a contar:
O meu grande amigo
estudou até ao 7º ano no liceu de Jaime Moniz, no Funchal.
Foi aluno do quadro de honra, tirou 19 valores a filosofia e 10 a matemática,
com o Dr. Camachinho, o professor mais temido por gerações sucessivas de
madeirenses que, o dito, reprovava quer nos exames de admissão ao liceu, quer
no fim daquele. Todos o chamavam com
nomes horríveis, e, ainda, por cima era um gozão. Seja como for o meu
amigo, pese embora, o 10 a mafamética, terminou o liceu com média de 14 valores.
Em 1967 ingressa na Academia
Militar, com dispensa da prova cultural de admissão, seria também dispensado dos
exames de admissão à universidade, se tivesse concorrido a medicina, sua opção
alternativa.
O meu amigo tira o curso
de artilharia na Academia Militar, entre 67 e 71, foi o número um do curso, durante alguns
anos, no tirocínio passa para nº 2, chefiou, entretanto, uma greve pelo meio. Termina com a nota de 13,99 valores, o número
um terminou com 14. A centésima de diferença parece que teve a ver com um teste
de amamento de infantaria, do que o meu amigo, sendo artilheiro, não gostava
nada mesmo daquelas “armazinhas”. As nobres
eram só os obuses, as peças e melhor o misseis que não havia, falavam, então, de missas.
O meu amigo vai depois
para África, onde, comanda pelotões, companhias e é adjunto na sala de
operações de um batalhão e de um comandante de Bateria.
Nos anos de 1978/79
inicia o curso de Sociologia no ISCTE, no horário nocturno, tem aulas todos os
dias das 19, 30 às 23, 30 que frequenta religiosamente durante 5 anos. Nada
conta a experiência profissional, faz exames e provas de avaliação contínua,
nestas pede a colaboração à sua amiga que vai vir a ser a mãe do seu filho,
para manuscrever os seus trabalhos, por causa da letra. Um trabalho imenso para
ela que vai ter de fazer o curso, sem nunca receber, ou sequer sonhar com
futuros créditos académicos.
Este meu amigo entra em
divergências no curso com Professor Villaverde Cabral, por causa do modo muito
saltitante como dava as aulas; por afirmar que a sociologia era pura erudição (o
meu amigo pensava que a sociologia era uma ciência), e, ainda, por causa da campanha
do trigo, que o Prof. achava uma acção de grande alcance, e o meu amigo, aluno, que não, que tinha sido
mais uma manobra de propaganda.
Também teve divergências
com a professora assistente da Doutora Filomena
Mónica, uma linda mulher- professora, mas com défices graves em metódos de
instrução, lia as tais fichas de leitura
dactilografadas ou manuscritas, mas aqui, como o meu amigo ficava encantado com
a sua beleza, a razão da divergência não foi o método de exposição da matéria,
mas sim, a assistente ter eleito como
bíblia da disciplina, as teorias de Raimond Aron, o que, o meu amigo, capitão de
Abril ,não podia aceitar –Bíblias - nunca mais!
Uma outra grave divergência
teve com o professor de sociologia do desenvolvimento, quando, em trabalho
apresentado na aula, disse que todos os métodos de ensino estavam errados,
porque nenhum deles se destinava ao homem real, mas sim ao seu duplo.
O Homem real era o Freudiano, o que, anda por
aí, é o seu duplo. Finalmente o cinema
consagra esta versão, no filme : Os duplos. Todavia no princípio da década de 80
caiu o Carmo e a Trindade naquela sala de aulas, algumas colegas ainda se
lembram, e o meu amigo passou de um dos melhores alunos na disciplina a
verdadeiro diabo. O evocado trabalho não podia ser aceite, estava fora do
âmbito da cadeira, fazia tábua rasa de contributos como dos de Marx, Samir Amin
etc. Um sacrilégio!
Todavia, o meu amigo terminou
este curso com 15 valores, e deram-lhe a equivalência da cadeira de matemáticas
gerais da AM, à matemática do curso de sociologia. Foi a custo, mas foi muito
bom. Aquela matemática não era mesmo precisa para a sociologia, e se o meu
amigo tivesse sido obrigado a tirá-la, naturalmente, o curso de sociologia não
faria parte do seu currículo. Mas a sociologia teria sido, por certo, uma sua preocupação.
Em 1984/1985 faz no
Instituto de Altos Estudos Militares
(IAEM) o curso de promoção a Major, tem a ousadia de fazer na cadeira de estratégia,
com o grande professor, então, Major de
Infantaria Sobral, um trabalho sobre pacifismo, com base no pensamento de Ghandi,
espera uma nota de (-) zero, mas será o
próprio professor, que adivinhando as suas preocupações, antes da comunicação
oficial das notas, lhe diz num corredor das salas de aulas, que teve um A.
Termina o curso com a
nota de BOM, e ouve palavras de muito apreço do General Belchior Vieira.
Entre 1988-93 tira o
curso de psicologia na faculdade de psicologia, frequenta o curso diurno com as
suas colegas de 18/19 anos, fez perto de 50 exames, deram-lhe equivalência às
cadeiras de estatística um e dois, com base no currículo da Academia Militar, e
recusaram-lhe a equivalência na cadeira
de psicologia social que tinha
feito no curso de sociologia, este facto, vai-lhe provocar agruras, e vai
espoletar um comportamento agressivo do professor
da disciplina de cognição social.
A história é simples: pela cadeira de psicologia social os
estereótipos eram um produto social, sobretudo os racistas, pela cognição
social não. Tudo tinha a ver com os comportamentos de uma população
minoritária se tornarem num estimulo saliente, donde, mais facilmente fosse
possível processar a informação negativa que tendia a confirmar-se rapidamente,
com poucos factos convergentes, e nascia
o preconceito, por exemplo: se alguém daquela população rouba hoje, amanhã e depois de amanhã, o preconceito instala-se , e depois exige dezenas/
centenas de outros factos contrários
para se eliminar ou desactivar o estereótipo. Facto que poderia acontecer, através
da aplicação da hipótese de contacto, ou seja, quanto mais for a densidade e a quantidade
de contactos entre populações mais estes vieses do processamento da informação
tendem a desaparecer.
O meu amigo achava que
não seria bem assim, e o grande
professor da cadeira de cognição social lá lhe disse que em todas as turmas
tinha de haver um aluno do tipo do meu amigo – idiossincrático, livre, com
opinião – um bárbaro, para aquelas universidades.
O meu amigo ainda teve
divergências com outros professores. Ficou chocado com o modo como os seus
colegas e ele recolheram dados para três teses de doutoramento sobre: o
divórcio; alfabetos artificiais, e
imagens em espelho. Se fossem para pontes, estas não teriam resistido ao 1º
inverno, na psicologia deram os títulos de doutoras às doutorandas. Uma não merecia tal atitude da nossa parte, era tecnicamente
muito competente, mas afectivamente era uma pedra. (Como pode uma pedra ser
psicóloga? Nunca, mas pode ser catedrática de psicologia, coisas…)
O meu amigo acabará por sofrer uma desilusão com um grande
professor, porque como arguente, numa tese de doutoramento sobre depressão-pós-parto
de uma catedrática actual, argui erros metodológicos graves, médios e ligeiros.
Os graves eram mesmo graves, as justificações da doutoranda
pouco aceitáveis, mas no fim passa com
distinção e unanimidade. Facto que espanta o meu amigo que mais tarde há-de interpelar
o professor sobre o sentido do seu voto, ao que respondeu que- “tínhamos de ser
magnânimos!”
O meu amigo não
entendeu o significado da expressão, porque nunca viu aquele professor ser de um
nodo universal magnânimo perante os erros dos discentes, coisas, enquanto foi
para aquela doutoranda que já era
professora na Faculdade. Era muito simpática, mulher de outro professor doutor, mas que em dada altura desconhecia
que as fobias são controladas por umas outras amígdalas que temos lá para as
bandas do cérebro…
Em 1993 o meu amigo termina
o curso com 15 valores, muitas chatices, e depois vai fazer, desde aquela data, investigações e trabalhar
numa experiência multivariada no Exército com investigação, psicologia
clinica, selecção, gestão recursos
humanos, etc. etc., também por mais do que uma vez o motivaram para tentar o
doutoramento, o que, sempre recusou, porque achava que os professores doutores
deveriam ser génios, ( pensava que deviam ser, mas sabe que não são); depois 3 licenciaturas
esgotaram-no, e, ainda, porque entendeu que de acordo com os sues
critérios éticos, se é certo que nas universidades se aprende o saber na sua
melhor expressão e luminosidade, também
se desaprende tanto ao nível da virtude ,que seria melhor não se meter
num meio fechado, autoritário, não regulado, desde logo, porque os professores doutores
fazem o que querem, e fazem isso até aos
70 anos, e muitos, que o meu amigo conheceu, eram incompetentes, e, por vezes,
passaram alunos, e deram notas que ninguém entendia, até mesmo a alunos (as) que não cumpriam as suas obrigações dos estágios curriculares nas empresas onde eram
colocadas.
Todavia, e apesar
destas e de outras irregularidades já
muito censuráveis nas licenciaturas de 5 anos
antes de Bolonha, nomeadamente, o
copianço e os comportamentos estranhos identificados
com o compadrio, o que, hoje, se passa é de um verdadeiro escândalo que
perante o esforço que aqui se narra antes de Bolonha, para se obter o mesmo
resultado que um qualquer (?), ou especifico cidadão ( acredito mais nesta hipótese, a do especifico, por interesses políticos, e, ou de outra ordem)
pode obter, como brinde da Optimus ou de
Casino ( noutros tempos da farinha amparo)
ou compra de artefacto na loja dos 300 , é um escândalo a nível Académico
e cientifico, e se houve favorecimento em alguma dessas licenciaturas estamos
perante uma grave DEGRADAÇÂO MORAL DA PERSONLIDADE E DA PERSONAGEM PÚBLICA DE
QUEM FOI FAVORECIDO que o impede de exercer
qualquer função pública , e de usar o respectivo titulo, que se foi irregularmente
obtido, deve ser retirado, seja a personagem : politica, sindicalista, rica, ou
plebeia.
Quem trabalha no duro
não pode aceitar que a cidade seja conspurcada, e mesmo nus, com as carnes a sangrarem,
os membros decepados, e sobre os cotos, apoiando-se, temos de impedir a invasão
da cidade por varas de porcos ou de javalis.
andrade da silva
2 comentários:
A maior parte das vezes a recompensa do esforço, é a consciência que temos de ir sempre um pouco mais longe, em nós!
E você meu Capitão, essa consciência nunca lhe faltará
abraço amigo
Marília Gonçalves
abraço
a silva
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