quarta-feira, 11 de março de 2015

05 - POEMÁRIO * A minha lira




Hoje, por mais que tente, a minha lira
recusa-me um acorde de harmonia.
Apenas arfa, como quem suspira,
ou uiva, como aflita ventania.

Perplexo, me interrogo num porquê.
Olhando, em derredor, o desalinho.
Olhando, mas com olhos de quem vê,
descubro que me quer outro caminho.

Crianças órfãs medram pela ruas…
Nas mesas não há pão nem esperança...
As árvores sem ninhos tremem nuas…
Por entre a treva, a dor irada avança…

Bem-hajas, lira, a quem eu devo tanto!
Que seja, agora, a luta e não o canto!



José-Augusto de Carvalho
19 de Março de 2006.
Viana*Évora*Portugal