sábado, 12 de novembro de 2016

05 - POEMÁRIO * A minha mão...




Dizei-me, iluminados, onde fica

a terra decantada da utopia?

Eu quero ver a mão que modifica

o fel em mel, o choro em melodia.



Quisestes ensinar-me a boa nova

do lobo e do anho em paz pascendo juntos.

Aqui, onde a penar, do berço à cova,

de paz apenas gozam os defuntos.



Eu soube de Caim matando Abel!

Ainda quente o barro ao sol cozido…

O mel azedo transformado em fel

na mesa dos incautos é servido.



Soube também da pena de Talião…

…e mais e mais morrendo a utopia!

Que pode e que não pode a minha mão

para rasgar a treva e ver o dia?



Descubro, iluminados, que sou eu

quem vai além do barro à utopia!

Sou eu quem a si mesmo prometeu

e há-de cumprir o fim desta agonia.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 12 de Novembro de 2016.