Andei, hoje, Domingo, dia 15 Julho 2012, por Lisboa do Intende ao Chiado, vi e vivi as Lisboas que amo e as que me doem.
O meu amigo Tiago, da
secção do PS da Almirante Reis, há uns anos, pediu-me para dar um contributo para o programa candidato à
junta da freguesia dos Anjos na vertente segurança e dinamização cultural
daquela zona.
Quanto à segurança não
falarei, por agora, conquanto defenda que os sem-abrigo têm direito a uma
habitação, mas na ausência desta, deve ser-lhes concedido um abrigo. Não está
reconhecido o direito a ninguém de dormir nas ruas, porque não têm habitação, e
depois porque sim , … mas adiante.
Todavia, na vertente de
Dinamização, propunha as festas pelos
bairros e até interculturais. Andei por aquelas ruas a ver o que se poderia
fazer na área da recuperação urbana ( sou licenciado, com um curso de 5 anos,
pelo ISCTE, em sociologia urbana) e vi ruas com nomes dos países de Angola,
Moçambique etc, e também pelo muitos comerciantes de várias etnias, o que me
levou a adiantar essa ideia de eventos musicais e outros, de modo a trazer vida
e gente para as ruas naquelas áreas e em todas as áreas urbanas de Portugal – é
o que penso, também é-me muito fácil pensar assim, sou madeirense, e na Madeira
estamos sempre, isto é, quase sempre, a festejar alguma coisa: bela, linda, mas
os tempos, infelizmente, neste campo podem estar a mudar para negro, para a
ausência de festas, e, então, morremos: Morre um povo, O POVO DA MADEIRA.
Mas hoje vi e vivi a Lisboa
que amo, a Lisboa da Festa, no Intendente um grupo jovem e animado tocava música
muito dinâmica. Os jovens pulavam, a
cerveja Sagres, a um euro o copo, corria, mas um homem já entradote ainda
superava os jovens na dança e nos gestos - um assombro. Pensei que seria animador
de um grupo, mas, mais tarde, vi-o só no Chiado, e pensei que talvez seja mesmo
assim, estando só – uma força da natureza, belo.
No Martim Moniz gente de meia idade mulheres e homens,
sentados, ouviam, num espectáculo ao ar livre ,um fadista, e com que entusiamo
o ouviam! Muito o aplaudiam no fim das
intervenções.
No Chiado estavam os cantores ambulantes sós e em banda e entre eles uma criança.
Também o homem estátua suspenso de uma
bengala lá estava, a desenhar gestos
espantosos, o que, face àquela suspensão
se torna misterioso, e um acontecimento que muito divertia as crianças que
assistiam à exibição, e deu uma grande trabalheira a um cidadão africano que queria tirar uma
foto, mas ao que parece o seu telemóvel não estava lá muito de acordo, ou,
então, o tempo e as tentativas seriam para tirar a foto na melhor pose.
Mas esta Lisboa, bem
portuguesa, também está no sentir bem português de um povo pobre que embandeiram as suas casas
humildes com a bandeira verde rubra, o pretexto será a selecção de futebol, mas a razão de fundo
chama-se Portugal, do que, a foto dá indelével testemunho.
Contudo esta Lisboa
bela e linda não podia deixar de
mostrar-me as suas feridas, e não muito
longe da festa do Intendente e a dois passos da entrada principal da sede do
Bloco de Esquerda jazia um sem-abrigo, em que ele – pessoa - e os trapos e talvez as pulgas, porque ele
se coçava sem parar, era um todo. Mas
que fiz eu? O mesmo que os outros, passei ao largo, neste momento nem moeda
decente tinha.
Porém , mesmo antes deste encontro com um homem feito
farrapo, subi um pouco a Rua Maria da Fonte e que dor, my God! a ver por ali
tanta casa, lindas quintas, totalmente abandonadas – MY GOD, que dor!
Saindo do Martim Moniz, (
está com um lindo arranjo) cheguei à Praça da Figueira e nova dor, à boca do metro um homem
encardido e julgo que cego remexia-se à espera da moedinha, já estava municiado
e dei, ele sussurrou qualquer coisa que não entendi – também sou artilheiro,
logo ouvir… – nem distingui se era uma
palavra, mesmo um monossílabo, ou outra
qualquer coisa.
Mais à frente, a cinco
metros da boca o metro, um rapaz com uma garrafa de
cerveja de litro e meio, com as calças arregaçadas urinava. Sendo homem até
pensei que estaria a resolver outras necessidades, mas era mesmo urinar. O que
se pode ver por Lisboa, quando se anda a
pé e observa!
Mas aqui, nesta praça, ainda,
um jovem-adulto com malas, cobertores e
dois cães montou a sua “ suite” numa das
paragens de autocarro. Todavia deve ter tido a infeliz ideia de ir perturbar a
mui selecta freguesia – quantos BNP, por
esse mundo fora? – da pastelaria Suíça. O gerente chamou a PSP que ali acorreu,
e interrogaram o homem, identificaram-no, comunicaram para a esquadra os dados
daquele novel sem-abrigo, julgo, e durante uns 10-15 minutos assisti à distância ao
interrogatório, mas tive de partir, e, depressa, porque poderia, uma vez mais,
intervir, como o fiz, aquando do sequestro pela PSP de centenas de cidadãos nos
autocarros da Lisboa transportes, numa operação Stop, por aquela companhia de
transportes encomendada.
Todavia, tamanha barbaridade, nem beliscou o
sossego dos meus amigos virtuais que, de um modo geral, levantam bem alto, e
bem, os seus pergaminhos de cidadania, quando um militante dos seus partidos é
desrespeitado, mas estes casos da politica do quotidiano de desprezo pelos
cidadãos parece não os incomodar, e é pena, porque perdida a liberdade só quem tiver vocação para a
vitimação poderá vivenciar algo de
transcendente, mas será terrível para
quem gosta de amar ao luar, e para estes é preciso travar TODAS AS BATALHAS
PELA LIBERDADE, sem esperar as directivas burocráticas dos seus partidos.
A luta deve ser global, de todo o Povo e de
cada cidadão, como o dizia já em 1975.
Somos um país com muita
gente maravilhosa, mas temos cínicos a mais, e, por isto, a DEMOCRACIA vai a
caminho do seu funeral, quase irreversível.
Mas, hoje sobretudo
quero dizer: adoro a Lisboa do fado, da
sardinha, do amor e das lindas Tágides. Tágides baixai o vosso olhar para quem
tanto vos adora.
andrade da silva
1 comentário:
Também eu adoro Lisboa, de que me serve? para ir morrendo de saudade da Cidade onde nasci, na Av. da República, às mãos do Dr Pedro Monjardino, tal como meu irmão 11 anos mais tarde!Mas meu irmão, vive muito perto de si e trabalha em Lisboa, enquanto eu, há cerca de 7 anos que não consigo ir a Portugal!
tanto me bato Por Portugal, meu amor e pelo povo que se deixa ir esganando e como recompensa, não consigo ver o País que é a minha alegria de viver!
Injustiça? talvez, mas hoje na dor que nos aflige a Pátria, o que pesa a minha isolada e solitária dor?
Abraço amigo Capitão.
Talvez que se Abril se renovar potente e forte, este estado de coisas mude, para todos!
Mas para tal tem o povo que despertar, senão com o tempo, acostuma-se ao não ser em que anda e depois é que são elas!
Marília Gonçalves
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